O pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre
(CCST), braço do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
analisou mais de 200 artigos científicos sobre a Amazônia
e sua relação com o clima e as chuvas no Brasil, e concluiu que o
desmatamento dessa região influencia a falta de água sentida nas regiões
mais populosas do país, incluindo o Sudeste.
A diminuição da quantidade de árvores no bioma impede o fluxo de
umidade entre o Norte e o Sul do país, aponta o estudo divulgado nesta
quinta-feira (30).
O relatório “O Futuro Climático da Amazônia”, encomendado pela
Articulação Regional Amazônia, rede composta por várias associações
sul-americanas, tenta explicar as possíveis causas e efeitos da bagunça
climática recente e apresenta soluções que minimizariam os impactos
negativos dessas alterações.
De acordo com o pesquisador, a falta de precipitação, sentida
principalmente no Sudeste, em especial no estado de São Paulo, seria
consequência indireta do desflorestamento amazônico. Desde o início da
década de 1970 até 2013, a exploração madeireira e o desmatamento
gradual retiraram do bioma 762.979 km² de floresta, área equivalente a
duas Alemanhas. Os dados referem-se ao desmate total (chamado de corte
raso).
A retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo
para a atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes
nuvens de umidade, responsáveis pelas chuvas, que são transportadas
pelos ventos desde a Amazônia até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste
brasileiros, não “seguem viagem”, causando a escassez hídrica.
“A estação seca está se estendendo por maior tempo nas regiões mais
desmatadas e as nuvens de chuva dos rios aéreos não estão chegando, a
partir da floresta ainda existente, em áreas que anteriormente chegavam.
Esse efeito tem conexão direta com o desmatamento”, disse Nobre ao G1. "As regiões mais desmatadas são a saída dos rios aéreos da Amazônia para o resto da América do Sul Meridional", complementou.
Segundo a investigação, por dia, a Amazônia libera na atmosfera 20
trilhões de litros de água transpirada. Nobre compara a força das
árvores aos gêiseres, nascentes termais que lançam periodicamente jatos
de água quente para o alto. Essa transpiração, segundo o estudo, torna
ainda mais valiosa a floresta (além da sua vasta biodiversidade).
Tendência de mais desmatamento
Uma das soluções apresentadas pela pesquisa para evitar a descontinuidade no fluxo de umidade, e, desta forma, reduzir o agravamento da seca no Brasil, é zerar o desmatamento na Amazônia. No entanto, isso parece longe de acontecer.
Levantamento apresentado este mês pela organização Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou aumento de 191% no desmate
da floresta em agosto e setembro de 2014, em relação ao mesmo bimestre
de 2013.
Apesar de o dado ser paralelo ao divulgado pelo governo, que usa os
sistemas Deter e Prodes, as informações mais atualizadas do próprio
Deter, referentes a junho e julho, apontaram aumento de 195% na perda de
vegetação na comparação desses períodos entre 2014 e 2013.
Outro ponto alarmante é que o Brasil não assinou na Cúpula do Clima,
realizada pelas Nações Unidas em setembro, um acordo criado para reduzir
pela metade a perda de florestas até 2020 e zerá-la até 2030.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse na ocasião que o país não foi “convidado a se engajar no processo de preparação” da declaração. Em vez disso, segundo ela, o país recebeu uma cópia do texto da ONU, que pediu para aprová-lo sem a permissão de sugerir qualquer alteração. O Itamaraty acrescentou que o documento não é da ONU, mas dos países que o assinaram, e que o texto necessitava de melhorias, por isso o Brasil optou por não assinar.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse na ocasião que o país não foi “convidado a se engajar no processo de preparação” da declaração. Em vez disso, segundo ela, o país recebeu uma cópia do texto da ONU, que pediu para aprová-lo sem a permissão de sugerir qualquer alteração. O Itamaraty acrescentou que o documento não é da ONU, mas dos países que o assinaram, e que o texto necessitava de melhorias, por isso o Brasil optou por não assinar.
Nobre acredita que o governo brasileiro, ao não assinar a declaração
das florestas, desconhecia os termos presentes no atual relatório e tem
“a esperança de que tais argumentos serão absorvidos pelos
negociadores".
No trabalho, ele cita outras soluções para reverter a situação de crise
na Amazônia e suas consequências drásticas: popularizar os fatos
científicos que explicam a importância do bioma para o clima; reduzir as
queimadas que atingem a região; recuperar as áreas desmatadas com
replantio de novas florestas; e contar com "esforços de guerra" do
governo e da sociedade para financiar ações de preservação e conter o
avanço da degradação.
“O diagnóstico é muito sério, as ameaças são reais e as soluções ainda
estão ao alcance para reverter este quadro”, finaliza o pesquisador.
G1