Foi por meio
dos relatos dos avós ainda na infância que o pesquisador e doutor em Botânica
Econômica Juan Revilla, de 71 anos, começou a se interessar em estudar as plantas
medicinais. O peruano hoje desenvolve seu trabalho na
Amazônia Brasileira, onde veio estudar e tratar pacientes há mais de quatro
décadas .
Juan
Revilla é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
onde trabalha há 43 anos. Ao G1, o pesquisador explicou que
concentra seus estudos nas plantas nativas já usadas popularmente por moradores
da Região
Amazônica, como uxi amarelo, unha de Gato, marapuama,
entre outras.
Revilla
explica, por exemplo, que pesquisa sobre problemas de cistos nos ovários,
miomas, nódulos nos seios e endometriose com tratamentos a partir do uso dessas
ervas.
Atualmente,
o doutor se divide entre duas cidades para realizar pesquisas. Em Manaus, ele
atua no Instituto de Medicina Tradicional e, sempre que pode, viaja ao
município de Manaquiri, onde também trabalha com plantas medicinais.
Revilla
explicou que a primeira frente de sua pesquisa é sobre o levantamento das
informações das plantas medicinais da Amazônia. A segunda é a orientação no uso
de plantas medicinais pela população.
O pesquisador comentou que
a Amazônia brasileira possui inúmeras plantas que curam e que poderiam ser
vendidas para o mundo, mas apenas se conhece o uso de poucas.
Plantas medicinais da região
amazônica
Uxi
Amarelo: Originada da Amazônia
brasileira, possui efeitos anti-inflamatório, antioxidante, diurético e
estimulante imunológico. O pesquisador explicou que costuma se vender em forma
de casca (retiradas de troncos de árvores). A planta é usada no tratamento de
vários problemas de saúde, como no tratamento de miomas; cistos no ovário ou no
útero; combate a infecções urinárias; promove a regulação do ciclo menstrual
causada pela Síndrome dos Ovário Policísticos, também ajuda no tratamento
endometriose.
"O Uxi
Amarelo corrige os estudos hormonais. Hoje se conhece toda a química dessa
planta e sabemos quais os princípios ativos que fazem esse trabalho. Para a
indústria farmacêutica, é um fracasso, a dificuldade de fazer sínteses desses
compostos. É interessante o extrato seco de Uxi Amarelo. O extrato seco não é a
casca moída, é o chá sem água. E que pode se transformar em comprimidos",
explicou Revilla.
Unha de Gato: Encontrada
principalmente na Floresta Amazônica e em outras regiões da América do Sul,
começou a ser usada pelos indígenas de forma medicinal para tratamentos
inflamatórios e degenerativos. É uma planta que tem registro na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
"A
Unha de Gato tem um histórico mundial fantástico. É uma planta que corre na
Amazônia Brasileira e nós temos uma quantidade imensa desse produto que precisa
ser mapeado e ser estudado no campo para ver a dimensão da produção da unha de
gato e poder transformar em medicamento. É também outra planta que estamos
trabalhando aqui para transformá-la em comprimidos", contou o pesquisador.
Marapuama: Planta
medicinal originada na Amazônia. Serve para melhorar a circulação sanguínea,
tratar a anemia e disfunções sexuais. "É outra planta que considero muito
importante, assim como o Mirantã, a Marapuama trabalha com o sistema nervoso.
Essas plantas, nós estamos trabalhando alguns anos, e hoje nós sabemos de
alguns componentes químicos", explicou o pesquisador.
Clínica
de campo para o tratamento de doenças crônicas
Com a pandemia,
Revilla disse que teve a oportunidade de se dedicar muito mais ao campo, em
Manaquiri, no interior do Amazonas. Com recursos próprios e colaboração de
outras pessoas, ele conseguiu mais recursos para sustentar colaboradores, que
atualmente conta com 15.
Segundo
Revilla, os colaboradores preparam os ambientes físicos e paisagísticos do
projeto da construção de uma clínica em Manaquiri que conta com três pontos
importantes:
"O primeiro
é o laboratório para a fabricação dos medicamentos, quase concluída esperando
alguns equipamentos";
"O segundo
é o jardim botânico de plantas de valor econômico, chamada Botânica Econômica
Garden. Esse Jardim Botânico tenta mostrar aqui essas plantas com potencial
econômico. Hoje nós estamos com mais 1600 plantas já instalada em nosso
jardim";
"O terceiro é o trabalho de atendimento. Nós estamos montando uma
clínica de campo para o tratamento de doenças crônicas que pode ser inaugurado
no fim do ano.
Falta de financiamento
O pesquisador
reclamou da falta
de financiamento para desenvolver seu trabalho. Para
ele, atualmente, a contribuição das plantas medicinais para a saúde é de grande
valia, mas lamentavelmente, a população não sabe muito sobre o Inpa, o
instituto de pesquisa em que trabalha.
Fonte: G1 Amazonas