O desenvolvimento da bioenergia no Brasil deve evitar comprometer a
segurança alimentar, alertou o coordenador do programa de Bioenergia da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO),
Olivier Dubois.
Em entrevista à Agência Brasil, Dubois falou da
necessidade constante de mapeamento do solo para investigar o impacto
ambiental da produção agropecuária. Destacou que é preciso estudar os
efeitos indiretos da ocupação do solo, para que não haja danos,
principalmente, à agricultura familiar ao redor do mundo.
“Se disser ao pequeno agricultor que ele terá dinheiro a partir de
uma cultura, o risco é de ele utilizar seu lote todo para essa única
cultura. Ele fará 10 hectares para cultura de dendê e terá de comprar
comida. O risco disso é que ele será muito mais dependente dos preços
dos alimentos. Ou seja, uma certa proporção [do seu terreno] ele tem que
garantir, senão há o risco de segurança alimentar”
A avaliação de Dubois é que não há necessariamente uma
incompatibilidade entre a produção de alimentos e biocombustíveis. “Não
podemos diabolizar uma coisa porque depende muito da forma como você
faz. Não se pode competir com a utilização da terra na produção de
biocombustíveis, mas é possível concorrer. Planta alimentar como
matéria-prima pode ser mantida em consórcio de diferentes culturas na
mesma área”.
O coordenador citou o Projeto de Critérios e Indicadores de
Bioenergia e Segurança Alimentar da FAO, como uma ferramenta da
entidade, que inclui instrumentos de avaliação dos impactos ambientais e
socioeconômicos da produção de bioenergia, com indicadores que podem
ser medidos durante a produção e a recomendação de boas práticas e de
medidas políticas para promover o desenvolvimento sustentável da
bioenergia.
“Essa ferramenta orienta, por exemplo, os possíveis riscos de
substituição alimentar de forma sustentável. Com ela podemos avaliar e
monitorar as práticas de bionergia pelo mundo”, explicou. O instrumento
permite recomendar, por exemplo, balancear a produção de energia com a
de outros alimentos, utilizando o subproduto para alimentar o gado,
misturando ou fazendo rotação de culturas.
De acordo com a Embrapa Agroenergia, até 2004 não existia fabricação de
biodiesel no Brasil. Com a implantação do Programa Nacional de Produção
e Uso de Biodiesel (PNPB), o País passou a ser o segundo maior produtor
mundial e colocou no mercado 2.717 m³ do biocombustível em 2012.
Agência Brasil
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