Relatório divulgado hoje (27) pelo Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) mostra que a influência
humana no clima é a principal causa do aquecimento global observado
desde meados do século 20. O aumento das temperaturas é evidente e cada
uma das últimas três décadas tem sido sucessivamente mais quente,
informa o Sumário para os Formuladores de Políticas do Grupo de Trabalho 1 do IPCC.
“O relatório concluiu que a temperatura da atmosfera e dos oceanos
se elevou, a quantidade de neve e de gelo diminuiu e que o nível do mar e
de concentração de gases de efeito estufa aumentou”, destacou um dos
coordenadores do documento, Qin Dahe.
Segundo o texto, há 95% de probabilidade de que mais da metade da
elevação média da temperatura da Terra entre 1951 e 2010 tenham sido
causadas pelo homem. Os gases de efeito estufa contribuíram para o
aquecimento entre 0,5 e 1,3 graus Celsius (ºC) no período entre 1951 e
2010. “A continuada emissão de gases de efeito estufa vai causar mais
aquecimento e mudanças climáticas. Limitar a mudança climática vai
requerer substanciais e sustentadas reduções das emissões de gases de
efeito estufa”, disse Thomas Stocker, outro coordenador do documento.
O relatório ressalta que, até o fim do século 21, há pelo menos 66%
de chance de a temperatura global se elevar pelo menos 2ºC em comparação
com o período entre 1850 e 1900. “A mudança na temperatura da
superfície da Terra no final do século 21 pode exceder 1,5ºC no melhor
cenário e, provavelmente, deve exceder 2ºC nos dois piores cenários”,
disse Stocker. Na pior das possibilidades, a temperatura pode alcançar
4,8ºC até 2100.
Ele acrescentou que ondas de calor muito provavelmente vão ocorrer
com mais frequência e devem durar mais tempo. “Com o aquecimento do
planeta, esperamos ver regiões úmidas recebendo mais chuvas e regiões
secas recebendo menos chuvas, apesar de existirem exceções”, disse o
cientista.
O documento elaborado por 259 cientistas de 39 países apresentado em
Estocolmo, na Suécia, mostrou que a elevação da temperatura dos oceanos
até cem metros de profundidade pode variar entre 0,6 ºC e 2 ºC até
2100. Além disso, devido ao aumento do degelo dos glaciares, o nível do
mar deve subir entre 26 a 55 centímetros considerando o melhor cenário
e, entre 45 a 82 centímetros, no pior cenário. O gelo do Ártico pode
diminuir até 94% durante o verão no Hemisfério Norte até 2100.
“Com o aquecimento dos oceanos e a redução dos glaciares, o nível
global dos mares vai continuar a subir, mas em um ritmo mais rápido do
que experimentamos nos últimos 40 anos”, disse o pesquisador Qin Dahe.
De acordo com o documento, as concentrações atmosféricas de dióxido
de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram para níveis sem
precedentes nos últimos 800 mil anos. As concentrações de dióxido de
carbono subiram 40% desde a época pré-industrial (desde 1750),
principalmente devido às emissões provenientes da queima de combustíveis
fósseis. Segundo Stocker, como resultado das emissões passadas,
presentes e futuras de dióxido de carbono, a mudança climática é um
fato. “Os efeitos no clima vão persistir por muitos séculos mesmo que as
emissões parem”, concluiu o cientista.
O IPCC foi criado em 1988 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e
reúne milhares de cientistas de diversos países. Já foram publicados
quatro relatórios. A divulgação completa do quinto documento, incluindo
os trabalhos dos grupos 2 e 3, deverá ocorrer até 2014. Nesta
sexta-feira, foi lançado o documento do Grupo de Trabalho 1, que trata
dos aspectos científicos das mudanças climáticas. Os dados do IPCC
servirão de base para as negociações climáticas internacionais.
Agência Brasil
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