Pouco mais da metade (55%) dos professores
do ensino médio da rede pública do país não tem formação específica na
área em que atua. Em números absolutos, o percentual equivale a quase
280 mil docentes do país.
Em física, a proporção de especialistas na matéria cai a 17,7%; em química, a 33,3%.
Na rede particular, a situação é só um pouco melhor: do total de professores, 47% não possuem a formação ideal.
O levantamento, inédito, foi tabulado pelo Inep (instituto de
pesquisas do Ministério da Educação), a pedido da Folha. A base é o
Censo Escolar de 2012 (o mais recente).
Os últimos dados oficiais divulgados sobre deficit de professores no
país referiam-se a uma estimativa da Capes (outro órgão da pasta), com
informações de 2005, que englobavam também os anos finais do
fundamental.
Considerando as redes públicas e privadas juntas, hoje 53,5% dos
docentes do ensino médio não têm a formação ideal. Naquele ano, eram 51%
(fundamental e médio).
A Bahia é o Estado que possui menor proporção de professores com a formação ideal (8,5%) no sistema público.
FORA DA LEI
Na outra ponta da lista está o Distrito Federal (71%). São Paulo
possui 57% -o Estado afirma que, se o professor não tem a formação
específica na matéria, ao menos tem diploma em área correlata (por
exemplo, docente de matemática para física).
“Não existe uma oferta de profissional no ritmo que [a rede]
precisa”, reconhece o secretário de educação básica do Ministério da
Educação, Romeu Caputo. Ele ressalta, porém, que parte do deficit é
proveniente de matérias recentemente incorporadas ao currículo, como
sociologia e filosofia.
Para Ana Lúcia Marques, diretora da escola Setor Leste, de Brasília, licenciatura faz diferença no ensino.
A escola, referência de ensino público na capital, diz ter todo corpo
docente com formação específica. “Uma pessoa que faz engenharia [e dá
aula de física] pode ter o domínio do conteúdo, mas não aprendeu o
manejo da classe, que também é extremamente necessário”, disse a
diretora.
Para o professor de física no Distrito Federal Paulo Sérgio Alves,
54, a especialização não é um fator determinante, mas é importante.
“Na área de física, a maioria dos professores é de matemática porque
sabe resolver, mas falta definição do conceito, falta habilidade para
passar de onde vem aquilo.”
Na tentativa de reverter o quadro, o Ministério da Educação lançou o
pacto nacional para o fortalecimento do ensino médio. A medida prevê a
realização, a partir do próximo ano, do curso de formação continuada
para docentes da rede pública. Serão 90 horas de capacitação, com bolsa
mensal de R$ 200.
O curso do ministério terá o objetivo não apenas de atualizar o
conhecimento dos professores na área de atuação como desenvolver
atividades para aproximá-lo dos alunos em sala de aula, afirma o
secretário da área.
Folha de São Paulo
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