Um estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o
consumo excessivo de iodo durante a gravidez e lactação pode tornar os
filhos mais propensos a sofrer de hipotireoidismo quando adultos. O
estudo foi feito com ratas e faz parte do projeto de pós-doutorado de
Caroline Serrano do Nascimento. O iodo é um nutriente essencial para o
ser humano, usado na síntese dos hormônios da tireoide T3 e T4,
necessários para regular o metabolismo e auxiliar no funcionamento
correto de todos os órgãos.
De acordo com Caroline, a deficiência de iodo pode causar um aumento
da glândula tireoide e durante a gestação danos cerebrais em crianças,
porque os hormônios dessa glândula também são alguns dos responsáveis
pelo desenvolvimento do sistema nervoso central. “Mas ao mesmo tempo, o
consumo maior do que a dose diária recomendada (150 microgramas) pode
prejudicar o ser humano, por isso a dose de iodo no sal passou para 20 a
60 miligramas por quilo no Brasil. Esse é o recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para populações que consomem até dez
gramas de sal por dia”.
Caroline explicou que a pesquisa avalia os ratos filhos de mães que
passaram pela superdosagem de iodo, na vida adulta para ver se houve
algum tipo de alteração. “Uma série de genes tiroidianos relacionados
com a síntese de hormônios da tireoide estão diminuídos nesses animais.
Isso quer dizer que a prole pode estar mais exposta a desenvolver o
hipotireoidismo quando a mãe ingere excesso de iodo [durante a
gestação]”.
Ela disse também que no primeiro trimestre da gestação, o feto é
totalmente dependente dos hormônios tireoidianos produzidos pela mãe e
qualquer alteração na síntese hormonal nessa fase pode causar
consequências graves para o desenvolvimento fetal. Após o segundo
trimestre, o bebê já tem sua própria tireoide desenvolvida, mas ainda
depende do aporte de iodo da mãe, que é feito pela placenta.
Para fazer o estudo a pesquisadora ofereceu água com uma dose de
iodo cinco vezes maior que a recomendada para as ratas desde o início da
gestação até o fim da lactação, o que seria o equivalente a ingerir o
iodo contido em 12 gramas de sal. Outro grupo ingeriu a quantidade
considerada ideal. “Após o desmame, aos 21 dias de idade, as proles dos
dois grupos passaram a receber ração e água com quantidades ideais de
iodo. Aos 90 dias de idade, constatamos que os filhotes das ratas
submetidas à sobrecarga do mineral haviam desenvolvido hipotireoidismo,
enquanto os do grupo controle estavam com a tireoide saudável”.
O próximo passo, segundo a pesquisadora, é descobrir em que momento
da gestação ou da lactação esse excesso de iodo é mais prejudicial.
Caroline ressaltou que mesmo conhecendo os efeitos nocivos do excesso de
iodo não é possível eliminá-lo do sal e sim investir em políticas
públicas para reduzir o consumo do sal pela população, evitando não só
os riscos de doenças na tireoide como de doenças cardiovasculares.
Agência Brasil
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