Um grande reservatório de água, equivalente em área ao território da
Irlanda, foi descoberto debaixo da cobertura de gelo da Groenlândia e
pode fornecer respostas para um dos grandes enigmas das mudanças
climáticas.
Em 2011, cientistas americanos cruzaram a cobertura de gelo do sul da
Groenlândia em uma expedição para coletar testemunhos de gelo, uma
referência da queda anual de neve.
Eles ficaram assombrados ao perfurar uma camada de neve comprimida
denominada "firn" e, ao invés de uma esponja congelada a 10 metros de
profundidade, como era esperado, eles encontraram água líquida e
grânulos de gelo.
Os cientistas, então, fizeram outra perfuração a alguns quilômetros
dali e obtiveram o mesmo resultado ao atingir a camada de neve "firn" a
25 metros.
Em busca de uma resposta para esta água misteriosa, um avião da Nasa
equipado com um radar de mapeamento de terreno foi levado para sobrevoar
a região, assim como um radar de penetração no solo, puxado por um
snowmobile (trenó motorizado).
O radar retornou reflexos brilhantes, indicando a presença de um grande reservatório de água sob o gelo.
Estendendo-se para o flanco sul da Groenlândia, a água escondida cobre
uma área de 70 mil quilômetros quadrados. É encontrada em profundidades
sob o gelo que variam de 5 a 50 metros.
A maior raspadinha do mundo?
Segundo artigo publicado no domingo na revista "Nature Geoscience", acredita-se que o reservatório contenha neve derretida no verão anterior.
Ele funciona de forma similar a um aquífero subterrâneo, que é uma rocha esponjosa que armazena água em seus espaços.
Neste caso, os espaços de ar na neve "firn" são ocupados por água,
resultando em algo similar ao gelo batido de uma sobremesa popular
conhecida como raspadinha.
"O fato surpreendente é que o suco nesta neve nunca se congela, mesmo
no escuro inverno da Groenlândia", afirmou Rick Forster, professor de
geografia da Universidade de Utah, que chefiou a missão.
"Grandes quantidades de neve caem na superfície posterior no verão e
rapidamente isolam a água das temperaturas do ar abaixo do congelamento
da parte superior, permitindo à água perdurar por todo o ano",
continuou.
Mudanças climáticas
O reservatório secreto parece existir por algum tempo e não foi provocado pelo aquecimento global, acreditam os cientistas.
Mas eles acrescentaram que poderia ajudar a compreender o destino da cobertura de gelo, uma questão chave da ciência climática.
Uma poderosa placa de gelo com espessura de cerca de 1.500 metros, a
Groenlândia sofre um degelo sem precedentes, à medida que o aquecimento
global se acelera.
Em 2012, a cobertura de gelo perdeu um recorde de 150 quilômetros
cúbicos em volume, transformando esta no maior contribuinte único para a
elevação do nível do mar no mundo, afirmou Forster.
Se a cobertura de gelo derreter totalmente, poderia fazer o nível do
mar subir cerca de 7 metros. Este é um cenário catastrófico que a
maioria dos cientistas descarta, mas, mesmo a perda de uma grande parte,
ainda inundaria cidades costeiras vulneráveis.
A descoberta do reservatório subglacial que dura todo o ano põe por
terra todas as simulações de computador que tentaram estimar este
movimento hídrico.
As simulações costumam ter água chegando aos rios, lagos e corpos
hídricos subglaciais que eventualmente chegam para o mar ou correm para a
cobertura de gelo através de fendas e acabam congelando.
O próximo passo é determinar se o reservatório ajuda ou retarda a sobrevida da cobertura de gelo da Groenlândia.
"Ele pode conservar o fluxo de água de degelo e, assim, ajudaria a reduzir os efeitos das mudanças climáticas", disse Forster.
"Mas também pode ter o efeito contrário, fornecendo lubrificação para
as geleiras em movimento e exacerbando a velocidade do gelo e a quebra
(do iceberg), aumentando a massa de degelo para o oceano em todo o
mundo", concluiu.
G1 Natureza
Nenhum comentário:
Postar um comentário