O uso do telhado verde pode ser um instrumento importante para
reduzir os impactos de ilhas das calor formadas especialmente em
grandes centros urbanos, indica estudo da Universidade de São Paulo
(USP). Ao comparar dois prédios da capital paulista, um com área verde e
outro com laje de concreto, o geógrafo Humberto Catuzzo verificou que a
temperatura no topo do edifício com jardim ficou até 5,3 graus Celsius
(°C) mais baixa. Também houve ganho de 15,7% em relação à umidade
relativa do ar.
“Se imaginarmos que está fazendo 25°C no prédio com telhado verde e,
no de concreto, 30°C, isso faz uma grande diferença dentro daquele
microclima”, disse o pesquisador e autor da tese de doutorado com esse
tema. Catuzzo destacou que não é possível definir exatamente o impacto
que a iniciativa teria, se fosse expandida, mas observou que as
diferenças de temperatura e umidade constatadas na experiência foram
muito significativas. “Poderia melhorar a questão climática ou ambiental
daquela região central”, ressaltou.
Os edifícios analisados foram o Conde Matarazzo, sede da prefeitura
de São Paulo, no Viaduto do Chá, e o Mercantil/Finasa, na Rua Líbero
Badaró, cuja laje é de concreto. Os dois prédios, localizados na margem
direita do Vale do Anhangabaú, foram escolhidos por estarem sujeitos a
condições atmosféricas e de insolação semelhantes. No topo dos edifícios
foram instalados sensores a 1,5 metro do chão (padrão internacional),
que, durante um ano e 11 dias, mediram a temperatura e a umidade
relativa do ar na área dos dois telhados.
De acordo com Catuzzo, a ilha de calor existente no centro de São
Paulo eleva em até 10°C a temperatura na região durante o verão. “O
concreto, o pavimento, a grande circulação de veículos fazem com que
essa área tenha um aquecimento maior em relação a outras”, disse. O uso
de telhados ecológicos solucionaria também o problema da falta de
espaços no centro que pudessem abrigar áreas verdes.
No estudo, Catuzzo comparou os dados do prédio da prefeitura com as
informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Nesse caso, o
telhado verde, mesmo estando em área central, apresentou menor
aquecimento e maior umidade relativa do ar. A variação mais
significativa foi 3,2°C mais frio e 21,7% mais úmido.
Segundo o pesquisador, essas áreas absorvem cerca de 30% da luz
irradiada pelo sol. “Parte [da energia] é retida pelas plantas, até pela
questão da fotossíntese, e uma menor quantidade de calor é emitida de
novo para a atmosfera”, disse Catuzzo à Agência Brasil. Sem a vegetação, o concreto recebe a energia solar, fica aquecido e emite novamente calor, ou seja, está aquecendo ainda mais.
Além do ganho em termos climáticos, o telhado verde pode contribuir
para a redução do uso de energia. “Aumenta-se o conforto térmico no
interior dos edifícios e, consequentemente, reduz-se o uso do
ar-condicionado”, exemplificou Catuzzo. Também melhora o escoamento
pluvial, que é fundamental especialmente para uma cidade que sofre com
enchentes. “A água da chuva escoa mais lentamente para as galerias.”
Para o geógrafo, a expansão do uso desse tipo de telhado pode ajudar
na formação de corredores ecológicos nas grandes cidades, interligando
várias coberturas às áreas preservadas, como praças e parques. “No 14°
andar de um prédio, existe vida. São pássaros, como sabiás e bem-te-vis.
Há todo um ecossistema, mesmo que reduzido, funcionando perfeitamente.
Ver a cidade mais verde significaria ganho de qualidade ambiental para a
comunidade como um todo.”
A instalação de um telhado verde, no entanto, não pode ser feita sem
cálculos para verificação de qual o modelo mais adequado de acordo com
as condições estruturais do prédio. “O da prefeitura, por exemplo, é um
telhado verde intensivo, que tem um peso maior, com árvores de porte
médio a alto”, explicou Catuzzo. Existem outros tipos de cobertura
vegetal, como a extensiva, com o uso de grama; e a semi-intensiva, com
plantas de porte arbustivo, além da grama.
Agência Brasil
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