domingo, 3 de novembro de 2024

Deus existe. Deus existe no cérebro', diz neuropsicólogo e pesquisador

 


Em julho passado, o neuropsicólogo e professor da Faculdade de Medicina da Northwestern University, nos Estados Unidos, Jordan Grafman, publicou um artigo na revista Nature, intitulado "Os neurocientistas não devem ter medo de estudar religião". Grafman está ciente de que o tema é polêmico e não hesita em abordá-lo. Segundo ele, “neurocientistas evitam estudar religião ou espiritualidade por receio de serem vistos como pouco científicos” e defende a importância de explorar o tema. Seu objetivo não é comprovar ou refutar a existência de Deus ou da espiritualidade, mas entender como essas crenças funcionam no cérebro e quais são seus efeitos.

O professor iniciou uma parceria com o instituto Ciência Pioneira, do IDOR, para criar um centro virtual de pesquisa em “neurociência das crenças”, unindo pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Esse centro também envolve o King’s College London e o Shirley Ryan AbilityLab. Grafman liderará pesquisas de pós-doutorado sobre temas como cognição religiosa, as bases neurológicas das crenças e a interação entre crenças religiosas e não religiosas.


Em entrevista ao GLOBO, Grafman explicou sua abordagem científica, afirmando: “Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro”. A seguir, os principais pontos da entrevista:

Escolhemos acreditar ou a fé é algo irracional? Grafman explica que aprendemos a acreditar. A maioria das pessoas é exposta a crenças desde a infância, seja no lar ou em locais de culto. Algumas pessoas, no entanto, escolhem seu sistema de crenças após análise racional ou experiências emocionais marcantes.

Mesmo quem cresce em uma família ateia pode desenvolver crenças? Sim, ele afirma. “Não acreditar em Deus também é uma crença.” Muitas pessoas escolhem sistemas de crença em busca de conforto ou alívio da ansiedade. Ao entrar em contato com ideias religiosas, até mesmo ateus formam representações de Deus no cérebro.

Nosso cérebro é projetado para a crença? Grafman defende que sim. Desde os primórdios, a busca por explicações para fenômenos naturais levou à criação de conceitos sobrenaturais. Esses sistemas de crenças ajudaram a organizar sociedades e moldaram a evolução humana.

As crenças são questionadas? Uma crença estabelecida oferece segurança e reduz a ansiedade, mas quem não possui crenças pode viver mais ansioso. “As crenças são uma assinatura de identidade”, afirma Grafman, definindo tanto indivíduos quanto grupos.

A ciência diminuiu a crença em fenômenos sobrenaturais? Grafman acredita que, embora a ciência tenha explicado muitas coisas, não responde a tudo. A fé ainda encontra espaço onde a ciência não alcança, como nas questões sobre a origem e o destino da vida.

Como a fé age no cérebro? Assim como estudamos sonhos e emoções no cérebro, Grafman defende que é possível mapear as redes neurais ligadas à fé e à prática religiosa. Pesquisas sobre fundamentalismo, por exemplo, podem revelar como crenças políticas e religiosas interagem no cérebro.

Por que os cientistas evitam estudar espiritualidade? Segundo Grafman, o temor de ser ridicularizado e o preconceito social dificultam a pesquisa na área. Muitos acadêmicos, especialmente os que não creem em Deus, são céticos quanto a essas investigações, o que afasta outros pesquisadores da área.

Estudar religião é diferente de investigar seus efeitos no cérebro e na vida das pessoas? Grafman ressalta que seu foco está nos aspectos intelectuais da religião e suas representações cerebrais. A pesquisa também examina como emoções, política e religião podem interagir no cérebro e influenciar a saúde.

Há evidências de que a espiritualidade beneficia a saúde? Sim, Grafman explica que a fé pode reduzir a ansiedade e o estresse, o que é positivo para a saúde. O efeito placebo é um exemplo de como a crença pode atuar no cérebro, estimulando mecanismos que controlam o estresse.

Qual é o propósito do novo centro de estudos no Rio? Esse centro foi criado para estudar as crenças sob a perspectiva da neurociência, eliminando muitos dilemas envolvidos no estudo da religião. Segundo Grafman, o impacto da iniciativa vai além do Brasil e abrange outros tipos de crença, como as políticas e econômicas, ampliando o entendimento das bases cerebrais da crença.


FONTE: O GLOBO

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