domingo, 20 de julho de 2025

Adoecimento mental de professores: Uma crise invisível na educação brasileira

 


A saúde mental dos profissionais de educação, especialmente dos professores, enfrenta um cenário crítico no Brasil. Estudos indicam que os transtornos mentais, como depressão, ansiedade e síndrome de burnout, tornaram-se as principais causas de afastamentos e licenças médicas na categoria docente.  Entre 2018 e 2023, esse tipo de distúrbio ocupou o topo das licenças, superando, inclusive, problemas vocais que antes eram mais comuns.

Em 2023, mais de 150 mil professores da rede pública foram afastados por motivos ligados à saúde mental, segundo levantamento da CNTE com base em dados do INSS. O principal diagnóstico foi à exaustão emocional, frequentemente identificada como burnout ou transtornos depressivos. A Organização Pan-Americana da Saúde classifica o Brasil como o país com maior prevalência de ansiedade no mundo e entre os cinco com mais casos de depressão nas Américas,  o que agrava ainda mais a vulnerabilidade do professores dentro do ambiente escolar.

Pesquisa com 6.430 profissionais de educação revelou que 75,5% acreditam que questões psicológicas são um dos principais motivos para desistirem da carreira. Outro levantamento apontou que mais de 20% dos docentes consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim, com sintomas prevalentes de ansiedade (60,1%), cansaço excessivo (48,1%) e insônia (41,1%).

A realidade da educação brasileira contribui para esse adoecimento. Condições precárias de trabalho  como baixos salários, turmas numerosas, falta de infraestrutura e pressão por produtividade  geram altos níveis de estresse crônico e sobrecarga emocional.  Adicionalmente, a violência escolar verbal, ameaças ou assédio e a desvinculação da gestão agravam o estresse coletivo e individual dos docentes.

Segundo a Fundacentro e pesquisadores da USP, os transtornos mentais já superam os problemas de voz e musculares como causa mais comum de afastamento médico entre professores, tanto da rede pública quanto da privada. A OIT considera a docência como uma das profissões de maior risco para doenças ocupacionais, estando à segunda no ranking mundial.

Dados de estudos regionais revelam números alarmantes: na rede pública de Uberlândia (MG), problemas como transtornos mentais comuns (CMD) afetavam cerca de 50% dos docentes, e 44% relataram sintomas depressivos. Cerca de 23,7%  faltaram ao trabalho por questões emocionais e 32% fizeram uso de medicamentos psicotrópicos. Em outro estado, os afastamentos por transtornos mentais dobraram entre 2015 e 2016, chegando a mais de 50 mil casos apenas em São Paulo.

O impacto do adoecimento docente se reflete diretamente na educação nacional: alta rotatividade, absenteísmo e contratação crescente de professores temporários muitas vezes em condições mais precárias  prejudicam a continuidade do ensino e a qualidade pedagógica.

A permanência prolongada de professores adoecidos em sala de aula também caracteriza o chamado "presenteísmo", embora presentes fisicamente, esses profissionais operam com saúde comprometida, reduzindo sua eficiência e prejudicando os alunos e o ambiente escolar como um todo.

Diante desse quadro, especialistas defendem políticas públicas estruturadas para promoção da saúde mental dos professores, programas de apoio psicológico, redução da carga de trabalho, valorização salarial, investimentos em infraestrutura e formação socioemocional.  Iniciativas como acompanhamento psicológico gratuito em redes de ensino reduziram em cerca de 32 % os pedidos de afastamento psiquiátrico em pilotos realizados em São Paulo.

Em síntese, a crise da saúde mental dos professores no Brasil não é apenas individual,  reflete uma estrutura educacional fragilizada, com valorização insuficiente, condições de trabalho difíceis e apoio precário. A adoção de políticas públicas eficazes e o reconhecimento do sofrimento docente como uma prioridade coletiva são medidas urgentes para preservar a base da formação social do país.

 


Um comentário:

  1. Um texto riquissimo. Digno de ser lido e relido. Parabens, meu amigo.

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