quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Moscatelli: sem poluição, calor não teria matado peixes no Rio


"Além do aumento de temperatura, a poluição não pode ser descartada como motivo da morte em série dos animais", disse ao Jornal do Brasil o biólogo Mário Moscatelli, conhecido por defender a preservação na região da Reserva de Marapendi, na Zona Oeste da cidade. Moscatelli contraria a versão da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), que apontou o calor como a causa da mortandade de cerca de quatro toneladas de peixes em canais e lagoas do Rio nos últimos dois dias. 

"Tanto na Lagoa Rodrigo de Freitas como no Canal de Marapendi, o detonador foi o calor, não há dúvida. Mas, por que o calor afetou de tal forma? Marapendi é uma latrina com esgoto entrando a noite toda, o que já reduz a níveis perigosos a concentração de oxigênio. Essas águas já estão num limite, o aumento de temperatura é o último empurrão para a morte desses animais", afirma o biólogo.


Outro efeito provocado pelo crescimento imobiliário da região associado ao aumento da poluição é a maior frequência com que os jacarés têm aparecido no Canal de Marapendi, cujo habitat natural está cada vez mais degradado. Os répteis, por sinal, vão fazer a festa com a mortandade dos peixes. Conforme explicou o biólogo, eles têm resistência suficiente para não serem intoxicados pelo pescado envenenado.


Segundo Moscatelli, se não houvesse poluição nas águas de canais e lagoas, provavelmente não teria ocorrido a mortandade apenas por causa do calor. De acordo com o ambientalista, falta mais "fiscalização sistemática" dos governos municipais e estaduais.

"Não falta tecnologia nem dinheiro, o que falta é vontade política. Se houver fiscalização permanente, que prenda quem polui as lagoas e canais da cidade, a situação se resolve. E a maioria desse esgoto vem de condomínios, que são mais fáceis de controlar, em comparação com o que vem de favelas", ressalta o biólogo.

Para ele, a única salvação da região da Reserva de Marapendi e da Baía de Guanabara é investir em saneamento: "Se isso não ocorrer em um prazo de três anos, esses dois ecossistemas estarão mortos em 2015", estima.

Jornal do Brasil

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