O combate à pobreza não assegura a redução da violência nem a da taxa
de homicídios no Brasil, conforme informação do estudo Avanço no
Socioeconômico, Retrocesso na Segurança Pública, Paradoxo Brasileiro?,
do professor doutor Luis Flávio Sapori, coordenador do Centro de
Pesquisas de Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC-MG). O estudo usa dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e das Nações Unidas.
Para Sapori, é fundamental as autoridades observarem três fatores que
levam à violência e que não têm relação direta com a pobreza. “É preciso
desfazer esse senso comum de que combatendo a pobreza quase que de
maneira imediata será possível reduzir a violência e a taxa de
homicídios no país”, destacou o pesquisador à Agência Brasil.
“Não é assim que funciona”, acrescentou. “A consolidação das nossas
instituições democráticas e de uma efetiva justiça social dependem da
nossa capacidade de controlar a criminalidade que vitimiza amplos
segmentos da população, em especial os mais pobres.”
Os fatores que contribuem para o aumento da violência e,
consequentemente, para a elevação da taxa de homicídios, mencionados na
pesquisa de Sapori, são a consolidação do tráfico de drogas,
principalmente o consumo de drogas, os elevados níveis de impunidade e a
necessidade de adoção de medidas mais eficientes para combater os dois
aspectos anteriores.
“O que preocupa é como o governo trata a questão da violência e a
questão da pobreza e da miséria”, ressaltou Sapori, que deverá publicar o
estudo na revista Desigualdade e Diversidade, da PUC-MG. “É
preciso repensar o que tem sido feito e como agir. A pesquisa mostra
que, apesar dos ganhos sociais, a violência aumenta.”
Pelos dados da pesquisa, há um aumento contínuo e gradual na taxa de
violência no período de 1999 a 2010. O número saltou de 21 homicídios
para cada grupo de 100 mil habitantes para 31 homicídios (para o mesmo
número de habitantes). A taxa é considerada elevada, segundo Sapori, e
pode ser comparada a alguns países africanos apontados como os mais
violentos do mundo.
“Não há qualidade de vida em uma sociedade que todos os anos
coleciona mais de 50 mil vítimas de assassinatos”, ressalta o estudo,
referindo-se à média de 50 assassinatos para cada 100 mil habitantes,
registrada em alguns países africanos. Pela pesquisa, os países da
Europa, da Ásia e da Oceania registram, em média, os índices mais baixos
de homicídios, com cerca de três assassinatos para cada 100 mil
habitantes.
Nas Américas, o Brasil é apontado entre os países mais violentos, ao
lado do Paraguai, da Guatemala e de El Salvador, com base em dados da
Organização das Nações Unidas (ONU). Na África, os mais violentos são
África do Sul, Uganda, Angola e Nigéria.
Agência Brasil
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