Diante do agravamento da crise hídrica no Brasil, com proporções mais
acentuadas na região Nordeste, assegurar água para o consumo humano,
animal e para a agricultura em condições adequadas e com periodicidade
regular tornou-se um desafio cada vez maior no semiárido alagoano.
A seca em estágio extremo avança no estado já afeta 14 municípios da região do semiárido. Dados do Laboratório de
Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade
Federal de Alagoas (Ufal), expõem que o fenômeno da desertificação
compromete a vida de 26% da população que vive no Sertão.
É neste cenário, em que áreas correm risco de desertificação, que uma
Organização Não Governamental está desenvolvendo o projeto Renas-Ser,
para recuperar nascentes de uso coletivo no semiárido alagoano.
No primeiro ciclo do projeto, a Organização de Preservação Ambiental
(OPA) mapeou 716 nascentes no Alto Sertão e conseguiu recuperar 55 delas
em dois anos, nos municípios de Água Branca, Pariconha e Mata Grande.
As medidas adotadas para a recuperação dos mananciais foram a limpeza e
o cercamento da área para evitar a entrada de animais, o
reflorestamento do entorno e a intervenção na saída do líquido, para que
a água que antes era colhida direto da fonte fosse canalizada e
armazenada em uma caixa d'água. Isso evita o contato direto com pessoas e
animais.
“Na primeira etapa, demos prioridade às nascentes que atendem um número
maior de famílias. Para isso, envolvemos as comunidades que fazem uso
destes ‘olhos d’água’ tanto no trabalho de recuperação, como nas ações
de educação ambiental”, expõe a coordenadora do Renas-Ser, Maria do
Carmo Vieira.
“As fontes estavam lá para uso comum, no entanto, a situação em muitas
delas era degradante. Com poucas preservadas, muitas outras estavam
poluídas, com lixo, dejetos de animais e com a vegetação do entorno
devastada”, relata Maria do Carmo.
Os sertanejos já sentem na prática os resultados destas ações. O
agricultor José Pereira, morador do Sítio Batuque, em Água Branca, conta
que voltou a ter uma alternativa para os períodos de estiagem.
"Quando o verão chega, a única água aqui no sítio é a da ‘fontinha’.
Depois do trabalho que fizeram lá, está mais limpa e mais fácil de
pegar. Antes tínhamos que esperar cada balde encher e dividir o espaço
até com os animais que sujavam tudo. Agora, como a água cai na caixa
d’água, basta abrir a torneira para encher o balde”, diz.
O diretor-executivo da OPA, Sérgio Leal, avalia que o resultado do
projeto é reflexo do envolvimento das comunidades como protagonistas da
ação. "Tanto que são os adultos que fazem a recuperação, com a
orientação de técnicos, e as crianças participam de trabalhos que
envolvem o reflorestamento e a conservação", expõe Leal.
Ele ainda enfatiza que ao participar de cada uma das etapas, as
famílias passam a entender a importância da preservação das nascentes.
"Recuperar nascente é uma forma de dar qualidade de vida às pessoas que
vivem nas comunidades sertanejas. Ensina-lás a preservar é uma forma de
educar para que elas mesmas cuidem da água que consomem”.
Morador da comunidade Serra do Cavalo, também em Água Branca, o
agricultor Alberício Leite dos Santos conta que sabe a importância de
preservar as nascentes, já que elas são a única opção de abastecimento
de água a muitas famílias.
“Lá no sítio, todo mundo faz uso da fonte. A água é usada no dia a dia para beber, cozinhar, lavar e cuidar dos animais. A água é pouca, mas o pouco ajuda porque seria muito difícil viver no Sertão no tempo seco”, comemora Alberício.
“Lá no sítio, todo mundo faz uso da fonte. A água é usada no dia a dia para beber, cozinhar, lavar e cuidar dos animais. A água é pouca, mas o pouco ajuda porque seria muito difícil viver no Sertão no tempo seco”, comemora Alberício.
G1 Natureza
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