A seca no semiárido do Nordeste do país, que já dura seis anos,
poderá se agravar até abril: há 75% de probabilidade de as chuvas
ficarem na média e abaixo da média climatológicas entre os meses de
fevereiro e abril, aponta o último relatório do Grupo de Trabalho em
Previsão Climática Sazonal (GTPCS) do Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovação e Comunicações (MCTI).
As previsões, produzidas com base em modelos climáticos e em
diagnósticos atmosféricos e oceânicos, integram a agenda de pesquisa do
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças
Climáticas, apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e pela FAPESP.
As análises para o período que vai de fevereiro a abril de 2017
mostram a persistência de ventos alísios mais fracos que o normal no
Atlântico Tropical e o aumento da temperatura da superfície do mar.
“Há 40% de chances de chuva no norte do Nordeste nesse período, mas
com grande variabilidade espacial e temporal e abaixo da média
histórica”, ressalta José Antonio Marengo, coordenador geral de Pesquisa
e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista, que integra o Grupo
de Trabalho.
A baixa precipitação está associada às temperaturas dos oceanos
Atlântico e Pacífico, incluindo a formação do El Niño intenso entre 2015
e 2016, assim como de “perturbações de larga escala” que resultaram no
deslocamento da zona de convergência intertropical para o norte.
“Esta zona representa uma banda de nuvens orientada de oeste a leste e
que determina chuva na região. Se esta zona fica mais ao norte, então
ficará mais afastada do Nordeste e não terá chuva na região”, explica
Marengo.
A seca tem sido implacável no leste do Piauí, sul do Ceará, oeste de
Pernambuco e centro-norte da Bahia, desde outubro de 2011, onde vivem
2,3 milhões de pessoas. As estimativas do Ministério da Integração dão
conta de que as perdas no setor agrícola nordestino em função da seca
são da ordem de US$ 6 bilhões, entre 2010 e 2015.
E o quadro poderá se agravar. Marengo sublinha não ser possível fazer
previsões climáticas para prazos acima de três meses em razão da
“elevada incerteza associada às previsões”, mas as estatísticas indicam
que a seca que atinge a região é a mais severa e mais prolongada desde
que o Cemaden iniciou o monitoramento da região, em 2013.
“Entre outubro de 2012 e setembro de 2013, quando a seca se
intensificou e afetou 53% das áreas de pastagens, o acumulado de
precipitação foi de 611 mm. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, o
acumulado de precipitação foi ainda mais baixo, de 588 mm”, afirma
Marengo.
Se até abril as chuvas atingirem um patamar entre a média histórica –
861 mm no período de 1961 a 2015 – e até 30% abaixo dessa média, a
situação hídrica na maioria dos sistemas de abastecimento de água no
norte da Região Nordeste não irá se recuperar. “A longo prazo, isso
implicará em acentuado risco de esgotamento da água armazenada nos
açudes do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte entre
novembro de 2017 e fevereiro de 2018”, prevê o meteorologista Marcelo
Seluchi, do Cemaden.
Em fevereiro de 2017, por exemplo, os 153 açudes do Ceará, com
capacidade total para 18.674,0 hm3, armazenavam 1.168,0 hm3 de água,
cerca de 6% da capacidade, de acordo com informações do Portal Hidrológico do Ceará.
Além do Cemaden, integram o GTPCS especialistas do Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e do Centro de Ciências do
Sistema Terrestre (CCST) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Participam como convidados representantes dos Centros Estaduais de
Meteorologia e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
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