Uma
expedição de cientistas foi ao lugar mais quente do planeta, o deserto
de Lut, no Irã, investigar como é possível existir vida animal ali, mas
não vegetação. Na área, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco,
as temperaturas chegam a até 70°C.
Em persa, a região é chamada Dasht-e-Loot, o que significa algo como
"deserto do vazio". Mas apesar desse nome, foram descobertos ali água,
insetos, répteis e raposas do deserto.
"Há espécies de animais que não são encontradas em nenhum outro lugar
do planeta", explica à BBC Amir AghaKouchak, professor de Hidrologia da
Universidade da Califórnia em Irvine e um dos cientistas a participar da
expedição.
No entanto, curiosamente não há registro de vegetação em nenhum ponto
dos 52 mil quilômetros quadrados de deserto, localizado no sudeste do
país, próximo às fronteiras do Paquistão e Afeganistão.
E o que cientistas querem entender é exatamente como existe uma cadeia alimentar numa região tão árida e sem plantas.
"Nossa maior pergunta é como um ambiente tão inóspito pode manter vida,
especialmente se não há vida vegetal. Como as raposas do deserto podem
sobreviver nesse ambiente tão hostil? E de onde vem a água", explica o
professor sobre a expedição.
Pássaros como alimento
AghaKouchak viajou ao coração do deserto de Lut com um grupo de
pesquisadores de diferentes áreas que trabalham nos Estados Unidos, Irã e
países europeus.
Uma das hipóteses dos cientistas é que pássaros que morrem na área são parte importante da cadeia alimentar.
"Frequentemente avistamos pássaros mortos no deserto. A maioria são
aves migratórias que provavelmente se perderam durante seu trajeto e
terminaram chegando a Lut."
Para comprovar ou descartar a teoria, os pesquisadores coletaram amostras das aves mortas durante a expedição.
70°C
Imagens de satélite mostraram o recorde de 70,7ºC em 2005. Temperatura
que, segundo o pesquisador, não foi um caso isolado - outras observações
registraram números semelhantes.
AghaKouchak explica ainda que a geografia da região é o que provoca
temperaturas tão altas - algumas áreas são compostas de rochas
vulcânicas, que absorvem calor, e outras, de dunas e vento forte.
"A combinação dessas circunstâncias, de superfície muito quente e muito
vento, é o que provoca o calor extremo. É como ter um secador de cabelo
funcionando o tempo todo", compara o cientista.
Apesar de a região parecer pouco atraente, o pesquisador a descreve
como um deserto de "dunas elegantes" que ganham "padrões incríveis"
criados pelo vento. E que é repleto de "kaluts", formações de rocha
criadas pela erosão do vento.
'Mar escondido'
Imagens de satélite também mostraram padrões de umidade no terreno.
Inicialmente, os pesquisadores não acreditaram nas informações
transmitidas - pensaram que as rochas da região estavam enviando sinais
distorcidos.
"Mas quando chegamos ao lugar onde as imagens mostravam umidade, nossos
veículos ficaram presos em vários centímetros de lodo", contou o
pesquisador.
"Essa foi a confirmação de que existia de fato água ali. E não se trata
de um lugar pequeno. Acreditamos que se trata de uma área grande, a
qual decidimos chamar de 'o mar escondido de Lut'. Porque a água é
salgada", acrescenta.
O pesquisador sugere que a umidade surge das distantes montanhas que
rodeiam a zona plana - as águas das ocasionais chuvas da primavera e do
início do outono seriam drenadas até ali.
G1
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