O Brasil
é o país mais perigoso para os defensores do meio ambiente, tendo
registrado 25% do total de assassinatos de ativistas ocorridos no mundo
em 2016, de acordo com um relatório da Global Witness divulgado nesta
quinta-feira (13).
Pelo menos 200 ativistas ambientais, um número recorde, foram mortos em
todo o mundo no ano passado, 60% deles na América Latina, segundo o
relatório.
O balanço, o dobro do registrado dois anos antes, é o mais elevado
desde que a organização começou a contabilizar os assassinatos de
ambientalistas, em 2002.
Este é o reflexo de uma onda de violência, em que "as empresas
mineradoras, madeireiras, hidroelétricas e agrícolas passam por cima das
pessoas e do meio ambiente em sua busca por lucro", lamenta a
organização.
Em 2016, os assassinatos de ativistas ambientais também se espalharam geograficamente, atingindo 24 países, contra 16 em 2015.
Brasil, Colômbia e Filipinas são responsáveis por mais da metade das
mortes, seguidos por Índia, Honduras, Nicarágua, República Democrática
do Congo e Bangladesh.
"A luta implacável pela riqueza natural da Amazônia torna o Brasil,
mais uma vez, o país mais letal do mundo", com 49 assassinatos em um
ano, alerta o relatório.
Já Honduras continua a ser o país mais perigoso em número de assassinatos per capita na última década.
De acordo com a ONG, 60% dos assassinatos ocorreram em países da
América Latina, e 40% das vítimas eram membros de grupos indígenas.
"A luta para proteger o planeta se intensifica rapidamente e o custo
pode ser quantificado em vidas humanas", lamenta Ben Leather, da Global
Witness, citado no relatório.
"Mais pessoas em mais países estão ficando sem opção senão tomar uma
posição contra o roubo de suas terras ou a destruição de seu meio
ambiente", acrescentou.
Um terço dos 100 assassinatos que foram atribuídos a setores
industriais específicos estavam vinculados a operações de mineração e
petróleo.
As mortes vinculadas a empresas madeireiras aumentaram de 15 a 23 em um
ano, e foram registrados 23 assassinatos relacionados com projetos do
agronegócio.
Recorde histórico na Colômbia
No caso da Colômbia, o número de assassinatos atingiu um máximo
histórico de 37, que a Global Witness atribui às consequências
inesperadas do processo de paz.
As áreas que até agora estavam sob controle da guerrilha se tornaram
alvo "da cobiça de companhias extrativistas e de paramilitares", segundo
o relatório.
O relatório também cita o depoimento de Jakeline Romero, uma líder
indígena colombiana ameaçada por protestar contra El Cerrejón, uma das
maiores minas do mundo a céu aberto.
"Te ameaçam para que você se cale. Não posso me calar", diz esta
ativista que luta contra a mina, propriedade das mineradoras suíça
Xstrata, britânica Anglo American e australiana BHP Billiton.
Proteger os parques naturais — onde os caçadores furtivos matam
elefantes e recuperam suas presas — também é uma atividade perigosa,
como demonstram os nove assassinatos de 2016 na República Democrática do
Congo.
A maior parte da violência está localizada em países tropicais, onde a
falta de regulação dos setores minerador e madeireiro facilita a
poluição da água, o confisco de terras e o deslocamento de povos
indígenas.
A corrupção e o abuso de autoridade também levam às vezes os
representantes da lei a agirem contra os ativistas do seu próprio país
em vez de protegê-los, segundo a Global Witness. A consequência é que
policiais e soldados foram identificados como suspeitos em ao menos 43
assassinatos em 2016.
"O assassinato é o resultado extremo de uma tática que consiste em
silenciar os ativistas, incluindo ameaças de morte, prisões, abusos
sexuais, sequestros e ataques legais agressivos", indica a ONG.
O relatório de 60 páginas reúne depoimentos de ativistas que sofreram
intimidação e violência por protestar contra o que consideram um saque
das suas terras.
"Realizamos 87 marchas, exigindo que eles respeitem nossos direitos, e
não tivemos resposta. Como resposta, só recebemos balas", diz Francisca
Ramírez, nicaraguense de 39 anos que se opõe ao projeto do canal para
conectar os oceanos Atlântico e Pacífico.
Em 2016, 11 defensores do meio ambiente foram assassinados na
Nicarágua, o que a transforma no país mais perigoso do mundo em número
de mortes per capita nesse ano.
G1 Natureza
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