A saúde mental dos
profissionais de educação, especialmente dos professores, enfrenta um cenário
crítico no Brasil. Estudos indicam que os transtornos mentais, como depressão,
ansiedade e síndrome de burnout,
tornaram-se as principais causas de afastamentos e licenças médicas na
categoria docente. Entre 2018 e 2023, esse tipo de distúrbio ocupou o topo das
licenças, superando, inclusive, problemas vocais que antes eram mais comuns.
Em
2023, mais de 150 mil professores da rede pública foram afastados por motivos
ligados à saúde mental, segundo levantamento da CNTE com base em dados do INSS.
O principal diagnóstico foi à exaustão emocional, frequentemente identificada
como burnout ou transtornos
depressivos. A Organização Pan-Americana da Saúde
classifica o Brasil como o país com maior prevalência de ansiedade no mundo e
entre os cinco com mais casos de depressão nas Américas, o que agrava ainda mais a vulnerabilidade do
professores dentro do ambiente escolar.
Pesquisa
com 6.430 profissionais de educação revelou que 75,5% acreditam que questões
psicológicas são um dos principais motivos para desistirem da carreira. Outro levantamento apontou que mais de 20% dos docentes
consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim, com sintomas prevalentes de
ansiedade (60,1%), cansaço excessivo (48,1%) e insônia (41,1%).
A
realidade da educação brasileira contribui para esse adoecimento. Condições
precárias de trabalho como baixos
salários, turmas numerosas, falta de infraestrutura e pressão por produtividade
geram altos níveis de estresse crônico e
sobrecarga emocional. Adicionalmente, a violência escolar verbal, ameaças ou assédio e
a desvinculação da gestão agravam o estresse coletivo e individual dos docentes.
Segundo
a Fundacentro e pesquisadores da USP, os transtornos mentais já superam os
problemas de voz e musculares como causa mais comum de afastamento médico entre
professores, tanto da rede pública quanto da privada. A OIT considera a docência como uma das profissões de maior
risco para doenças ocupacionais, estando à segunda no ranking mundial.
Dados de estudos regionais revelam números alarmantes: na rede
pública de Uberlândia (MG), problemas como transtornos mentais comuns (CMD)
afetavam cerca de 50% dos docentes, e 44% relataram sintomas depressivos. Cerca
de 23,7% faltaram ao trabalho por
questões emocionais e 32% fizeram uso de medicamentos psicotrópicos. Em outro estado, os afastamentos por transtornos mentais
dobraram entre 2015 e 2016, chegando a mais de 50 mil casos apenas em São Paulo.
O impacto do adoecimento docente se reflete diretamente na
educação nacional: alta rotatividade, absenteísmo e contratação crescente de
professores temporários muitas vezes em condições mais precárias prejudicam a continuidade do ensino e a
qualidade pedagógica.
A permanência prolongada de professores adoecidos em sala de
aula também caracteriza o chamado "presenteísmo", embora presentes
fisicamente, esses profissionais operam com saúde comprometida, reduzindo sua
eficiência e prejudicando os alunos e o ambiente escolar como um todo.
Diante desse quadro, especialistas defendem políticas públicas
estruturadas para promoção da saúde mental dos professores, programas de apoio
psicológico, redução da carga de trabalho, valorização salarial, investimentos
em infraestrutura e formação socioemocional. Iniciativas como
acompanhamento psicológico gratuito em redes de ensino reduziram em cerca de
32 % os pedidos de afastamento psiquiátrico em pilotos realizados em São Paulo.
Em síntese, a crise
da saúde mental dos professores no Brasil não é apenas individual, reflete uma estrutura educacional fragilizada,
com valorização insuficiente, condições de trabalho difíceis e apoio precário.
A adoção de políticas públicas eficazes e o reconhecimento do sofrimento
docente como uma prioridade coletiva são medidas urgentes para preservar a base
da formação social do país.