Uma catástrofe natural gigantesca acontece, com vulcões em erupção,
terremotos, maremotos, uma hecatombe digna de filme com superprodução em
que os sobreviventes serão responsáveis por reestabelecer a vida no
planeta. Nesse caso, o filme não acaba quando o sol aparece, as águas
retrocedem ou as bolas de fogo param de cair do céu. O final feliz
ocorre quando os sobreviventes alcançam o Banco Global de Sementes de
Svalbard, na Noruega, que agora também será abastecido com o feijão
brasileiro.
A Embrapa Arroz e Feijão, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) em Goiânia, fez a seleção - chamada coleção
nuclear - das amostras de diversas variedades de feijão que deve chegar
hoje (17) a Oslo, capital da Noruega. A amostra segue, então, para o
pequeno arquipélago de Svalbard, uma região remota próxima ao Polo
Norte. Lá, em um túnel de 125 metros, dentro de uma montanha, há três
câmaras de segurança máxima, aberta apenas quatro vezes ao ano, onde
estão armazenadas, a -20 graus Celsius, amostras de sementes de
alimentos do mundo todo. Em caso catástrofe, vai sair de lá o recomeço
da agricultura mundial.
O termo coleção nuclear é utilizado para definir um grupo limitado de
amostras que representam grande parte da variabilidade genética das
espécies. “Como é uma coleção nuclear com diversidade bem grande, vai
ter feijão-preto, vai ter carioca, feijão-vermelho, com manchinhas,
feijão do tipo trepador, do tipo que vira uma pequena árvore, aquele
mais adaptado à colheita comercial. A ideia é ser o mais variado
possível”, explicou a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, Marília Burle.
A coleção brasileira de feijão, com 514 amostras, é a segunda remessa
enviada a Svalbard. Em setembro de 2012, a Embrapa já havia mandado ao
banco nórdico 264 amostras de milhos e 541 de arroz. Segundo Marília,
outras espécies devem ser depositadas no banco, mas ainda não há
previsão para que isso ocorra. “Nem todos os bancos de germoplasma
[unidades de conservação de material genético das plantas] têm uma
coleção nuclear pronta. Para esses três produtos importantes na
agricultura brasileira, nós tínhamos a coleção estabelecida, e isso, em
nível mundial, é reconhecido como o filé de uma coleção, pois representa
ao máximo a diversidade genética da coleção maior”.
A pesquisadora explica que o governo da Noruega é financiador do
banco de Savalbard e também faz um grande esforço para manter a cidade
com moradores o ano todo, já é um lugar muito frio e passa três meses
totalmente no escuro. Além do próprio governo, o outro financiador é o
Global Crop Diversity Trust, uma ONG internacional que vem financiando
muitas ações de recursos genéticos e que recursos do Brasil, segundo
Marília.
O banco internacional tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de
amostras de sementes e sua localização também leva em conta a hipótese
de catástrofe mundial. Segundo a pesquisadora, todos os bancos genéticos
espalhados pelo mundo são dependentes de energia elétrica e passiveis
de acidentes. “A ideia de Svalbard é que, vá que tenhamos uma catástrofe
em que falte energia elétrica no mundo todo, uma coisa mais fora do
controle ou até mesmo guerras. Pensou-se, então, em construir um banco
mundial em um local mais próximo ao Polo Norte possível, que estaria
refrigerado naturalmente”.
Marília conta que o banco também foi construído de forma a resistir
também a impactos vindos do céu e a bombas. “O material lá duraria mais
do que em um banco aqui, com um verão quente. A ideia é de um backup mesmo, pensando em uma catástrofe em nível mundial”.
Agência Brasil
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