A Crimeia se tornou o foco da atenção da diplomacia internacional nas
últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As
tensões separatistas da região, de maioria russa, se tornaram mais
acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich – o
que levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para “normalizar” a situação.
A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
A seguir, saiba os detalhes sobre a crise na região.
O que é a Crimeia?
A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia, localizada em uma península no Mar Negro. A região já pertenceu à Rússia, e foi anexada pela Ucrânia em 1954 – o então líder soviético Nikita Khrushchev, que era de origem ucraniana, deu a região como presente. Diferente do resto da Ucrânia, a maioria da população na região é de origem russa.
Como teve início a crise na região?
No final de 2013, o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich desistiu de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações comerciais com a Rússia. A decisão deu origem a protestos massivos, que resultaram, em fevereiro, na destituição de Yanukovich, que fugiu para a Rússia.
Na Crimeia, de maioria russa, o parlamento local foi dominado por um
comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo
governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação
Russa e a realização de um referendo sobre o status da região no dia 16
de março.
Qual o papel da Rússia na crise?
Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou, a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio de tropas à Crimeia para “normalizar” a situação.
Tropas sem identificação, mas claramente russas – algumas em veículos
com placas registradas na Rússia – tomaram a Crimeia, dominando bases
militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se
reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em
casos de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano
se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos.
No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o
controle da península, e deu um ultimato para que os últimos oficiais
leais à Ucrânia se rendessem.
Segundo a Ucrânia, mais de 30 mil soldados russos já foram enviados à região. Os Estados Unidos
estimam o efetivo russo na região em 20 mil militares. A Rússia nega
ter efetivo militar na região superior ao de seu posto fixo em
Sebastopol.
Qual o interesse russo na Crimeia?
Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa.
A península fica em uma área estratégica do Mar Negro, muito próxima do
sudoeste da Rússia. A maior parte da frota russa no Mar Negro está na
Crimeia, com um quartel-general na cidade ucraniana de Sebastopol.
Para a Ucrânia, independente da Rússia desde o colapso da União
Soviética em 1991 e em meio a uma crise econômica, a perda da Crimeia
seria um enorme golpe.
Qual a reação do governo da Ucrânia?
O novo governo ucraniano, pró-União Europeia, criticou os movimentos separatistas e classificou a aprovação de intervenção militar russa como uma declaração de guerra. Logo em seguida, o governo convocou todas suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo.
O país também pediu apoio do Conselho de Segurança da ONU para frear a crise na península e defender sua integridade territorial.
Qual a reação dos países ocidentais?
Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem que a Rússia recuasse suas tropas na Crimeia. Os EUA também ameaçaram a Rússia com sanções, suspenderam as transações comerciais com o país e cancelaram um acordo de cooperação militar com Moscou.
Outros países do ocidente pressionaram a Rússia por uma saída
diplomática. A escalada de tensão também levou a uma ruptura entre as
grandes potências, com o G7 condenando a ação e cancelando uma reunião
com o governo de Moscou.
A União europeia também disse que poderia impor sanções, sendo criticada por Moscou, que ameaçou uma retaliação.
Em meio à crise, a Comissão Europeia divulgou um plano de ajuda de pelo
menos € 11 bilhões para a Ucrânia. Os EUA também anunciaram um pacote
de assistência técnica e econômica ao país em uma demonstração de apoio
ao novo governo, no valor de US$ 1 bilhão.
O que pode acontecer?
Analistas internacionais acreditam que a solução para o problema deve ocorrer por via diplomática.
A Ucrânia não é oficialmente membro da Otan – em 1997, o país assinou
um acordo em que se tornou um aliado extra-Otan e membro não-permanente
da organização. Por isso, analistas não acreditam que a Otan possa
entrar em guerra com a Rússia pela Ucrânia.
Qualquer ação militar ocidental direta arriscaria uma guerra entre as
superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido,
as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma
invasão russa muito mais ampla que poderia dominar o país.
A Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos
gasodutos passam pela Ucrânia, e acredita-se que o país tenha
capacidades de ataque cibernéticos sofisticados que poderiam ser usadas
contra a Ucrânia ou o Ocidente.
G1
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