Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) revelou
que a dieta dos brasileiros é rica em agrotóxicos, inclusive os mais
tóxicos. Ao cruzar os dados sobre o que come habitualmente a população
brasileira com a lista de agrotóxicos autorizados pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) a serem aplicados na cultura desses
alimentos, a pesquisa identificou 68 compostos que excediam o valor de
ingestão diária aceitável de acordo com limites estabelecidos pela
própria Anvisa.
Os resultados fazem parte da dissertação de mestrado de Jacqueline
Mary Gerage, defendida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq) da USP, em 2016. A ideia foi avaliar o risco de exposição
crônica de agrotóxicos na dieta da população, sabendo-se do uso regular
dessas substâncias em cultivos variados de grãos e hortaliças no Brasil.
Segundo a pesquisadora, dentre 283 agrotóxicos verificados, o brometo
de metila (BM), que pertencente à classe dos inseticidas, formicidas e
fungicidas e listado como extremamente tóxico, foi a substância com
maior estimativa de frequência nos alimentos.
A mesma substância também foi identificada por meio de outra pesquisa
da Esalq conduzida pela nutricionista Ana Paula Gasques Meira, aluna da
Pós-Graduação da Esalq, cujo enfoque foi estimar a ingestão de
agrotóxicos a partir da dieta dos alunos das escolas urbanas da rede
municipal de ensino da cidade de Guariba, interior de São Paulo. Os
resultados obtidos seguiram a tendência das informações observadas
nacionalmente: o brometo de metila se confirmou como uma das maiores
médias de ingestão. Nesta pesquisa, participaram 341 crianças e
adolescentes, com idade entre 7 e 16 anos.
Os dois trabalhos tiveram a orientação da professora Marina Vieira da
Silva, do Departamento Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq.
Usado como inseticida para desinfestação de solo, controle de
formigas e fumigação de produtos de origem vegetal, o brometo de metila é
um gás que mata insetos, fungos e bactérias, ervas daninhas ou qualquer
outro ser vivo presente no solo. Embora tenha esta utilidade na
agricultura, Jacqueline relata ao Jornal da USP que o produto é
altamente prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. “Seu uso está
em descontinuação global por causar danos à camada de ozônio e por
provocar riscos à saúde de trabalhadores rurais e moradores de regiões
próximas às áreas de produção agrícola.” Ainda segundo a publicação, em
1990, na assinatura do Protocolo de Montreal, houve um comprometimento
de 180 países para diminuir o uso de produtos semelhantes ao BM na
agricultura. O Brasil aderiu ao tratado internacional com a promessa de
diminuir gradualmente o manejo ao longo dos anos.
Como foi feita a pesquisa
Jacqueline obteve os alimentos que compunham a dieta habitual de
33.613 brasileiros, com idade superior a dez anos baseada em dados da
Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008/2009 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Foram considerados 743 itens
alimentares. Em seguida procurou saber da Anvisa, a quantidade de
agrotóxicos que era autorizada para alimentos que compunham o banco de
pesquisa, chegando a 283 compostos. Destes, Jacqueline verificou que 68
excediam o valor máximo permitido pela agência.
Foi aplicado o cálculo de Ingestão Diária Máxima Teórica (IDMT) para
avaliar a exposição da população aos agrotóxicos, que relaciona o
consumo médio dos alimentos e as concentrações médias de agrotóxicos. O
resultado obtido do cálculo IDMT foi então comparado ao parâmetro de
Ingestão Diária Aceitável (IDA), para caracterização do risco de
exposição. Apresentando valores acima do Limite Máximo de Resíduos
(LMR), os índices eram considerados preocupantes. Periodicamente, a
Anvisa publica informações técnicas sobre os agrotóxicos autorizados
para uso no Brasil.
Apesar de este tipo de exposição não ter sido avaliado por meio da
pesquisa, a especialista ressalta que na área rural há também os riscos
de intoxicação aguda envolvidos com a aplicação destes produtos, ao
inalar ou manipulá-los diretamente.
As informações foram publicadas no Jornal da USP.
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