O Golpe de 64 tem mais a ver com ambiente do que se imagina. O aniversário de 50 anos é uma boa oportunidade para uma prosa.
A separação entre aqueles a favor de um estado grande e de um estado
mínimo existe desde que começamos a pensar sobre o assunto. Infelizmente
a questão, um tanto epistemológica, acabou separando as pessoas em dois
grupos. De um lado os que querem a redução da maioridade penal, mais
liberdades individuais e importam-se muito com a geração de empregos, e
do outro aqueles que querem menos iniquidade, mais controle sobre
empresas e estado grande. Por algum motivo que desconheço, o ambiente é
uma preocupação maior para estes últimos que para os primeiros.
O Golpe de 64, se é que posso falar sobre algo que se passou antes de
ter nascido, acirrou esta cisão. Enquanto ouço muito falar sobre a
tortura e a limitação da expressão, as lembranças que tenho de criança
nos anos 70 têm pouco a ver com isto, já que eu era filho de uma família
mais preocupada com emprego e moradia e com certa simpatia pelo governo
militar.
Como a agenda ambiental foi mais abraçada pela esquerda, ela ainda
hoje enfrenta resistência na direita, e perdemos todos com isto. Também
não ajudou a postura festiva. Já lia jornal quando Gabeira trouxe suas
teses ambientais da Escandinávia e pousou com sua tanga de crochê em
Ipanema. Nada contra ela, e menos ainda contra ele, que se tornou
deputado de respeito. Mas naquele momento, faltou que também alguns
empresários de terno e gravata falassem parecido. Até tivemos (e ainda
temos) o Almirante Ibsen Câmara que fez mais pela conservação que um
caminhão de cabeludos, mas não me lembro de outro caso parecido.
Aos 50 anos do golpe, é bom lembrar o presidente francês que disse
que a esquerda não tem o monopólio do coração. Nem do ambiente, eu
adicionaria.
O golpe trouxe décadas de trevas, mas passou ele, assim como passaram
elas. Felizmente não há mais somente dois tipos de pessoa. No entanto,
haja quantos tipos houver, todos respiram ar, bebem água, comem e se
vestem e tudo isto vem de um único lugar que merece mais de nossa
atenção.
Eco Debate
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