A cada ano, 1,3 bilhão de toneladas de alimento são perdidas ou
desperdiçadas no mundo. Diante da expectativa de alguns especialistas,
que acreditam que essas perdas podem ser revertidas com mudanças de
padrões de produção e consumo, representantes do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançaram ontem (22), em
Genebra, uma campanha intitulada “Pensar, Comer, Preservar” para tentar
estimular novas ações em todo o planeta.
Segundo o sub-secretário-geral e diretor executivo do Pnuma, Achim
Steiner, a proposta é revelar a situação atual e apresentar modelos que
foram adotados com sucesso para minimizar o desperdício.
Steiner acredita que essas informações podem estimular um novo debate
no mundo e uma reflexão sobre o que deve ser feito para reverter o
cenário.
O representante do Pnuma lembrou as projeções que indicam que a
população mundial deve passar de 7 bilhões de pessoas para 9 bilhões até
2050, o que significa um crescimento da demanda por alimentos. “Não faz
sentido, economicamente, ambientalmente e eticamente, desperdiçar
alimentos”, disse, destacando o impacto do desperdício e da pressão pela
maior produção de alimentos sobre o meio ambiente.
“São desperdiçados também recursos como água, terras cultiváveis,
insumos agrícolas e tempo de trabalho, sem contar a geração de gases
estufa pela comida em decomposição e pelo transporte dos alimentos. Para
termos uma vida verdadeiramente sustentável, precisamos transformar a
maneira como produzimos nossos alimentos”, acrescentou Steiner.
De acordo com dados divulgados por representantes da FAO, 20% de
todas as terras do mundo já são cultivadas pela agricultura, que também
responde pelo consumo de 70% da água doce do mundo. A organização também
destaca que quase metade da comida descartada nas regiões
industrializadas ainda poderia ser consumida. O volume de desperdício
das nações mais ricas soma quase 300 toneladas por ano, quantidade que,
segundo a FAO, é equivalente à toda a produção de alimentos da África
Subsaariana e suficiente para alimentar 870 milhões de pessoas.
Diretora do departamento de Infraestrutura Rural e Agroindústrias da
FAO, Eugenia Serova, defendeu uma profunda mudança nas formas de consumo
e produção de alimentos. Ela lembrou que, apesar de os países
desenvolverem diferentes padrões agrícolas, “todos desperdiçam comida,
em maior ou menor volume”. Dados da FAO revelam que um terço dos
alimentos produzidos no mundo é perdido durante os processos de produção
e venda, o equivalente a US$ 1 trilhão.
O movimento lançado hoje pelos órgãos das Nações Unidas é resultado
de debate que ganhou força durante a Rio +20, a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu em junho do ano
passado, no Rio de Janeiro. Durante o encontro, os chefes de Estado que
participaram das negociações concordaram em adotar iniciativas para
mudar os padrões de consumo e produção em seus países.
A campanha reúne em um portal da internet
http://www.thinkeatsave.org/ informações em mais de quatro idiomas,
incluindo o português, sobre ações organizadas em todo o mundo. O site
destaca dicas para os consumidores sobre o que fazer para reduzir as
perdas, como elaborar listas e comprar vegetais que, mesmo não atendendo
o padrão dos mercados, estão plenamente adequados para o consumo. As
orientações também são voltadas para comerciantes que podem medir melhor
o desperdício e evitar algumas perdas.
Agência Brasil