Embora os brasileiros
tenham vivenciado um ano marcado pela realização da Conferência das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), pelo debate
sobre o uso de sacolas plásticas e por planejamentos municipais voltados
a ações sustentáveis como o fim dos lixões e a coleta seletiva de
resíduos, ainda não é o atual processo eleitoral, iniciado há cerca de
um mês, que posicionará a questão ambiental no centro dos debates
políticos.
A despeito do espaço que o tema tem
conquistado na agenda do país, nem os programas partidários eleitorais
ou os eleitores consideram o meio ambiente uma área prioritária para a
definição do voto na opinião de alguns especialistas.
“Dados os altos índices de
poluição, devastação florestal, mudança climática etc. [o meio ambiente]
somente vai adquirir centralidade para a população quando questões que
afetam seu cotidiano
estiverem mais bem solucionadas”, afirmou Rachel Meneguello, professora
do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de Campinas
(Unicamp).
Os programas partidários continuam voltados para os temas que estão no topo do ranking
de preocupações apontadas pelos eleitores em pesquisas de opinião. “Em
um cenário em que o poder público não consegue dar conta de questões
básicas, medidas como o fim das sacolas plásticas têm pouca adesão,
porque se sabe que é uma medida muito parcial, e sua implantação afeta o
cotidiano da maioria das pessoas, que não recebeu alternativa para dar
conta, por exemplo, de parte do lixo doméstico”, acrescentou.
O resultado pode ser confirmado com o acompanhamento dos primeiros programas eleitorais apresentados pelos partidos. “Em São Paulo,
todos os candidatos concentram a temática em problemas de saúde ou
transporte, refletindo as reivindicações básicas do eleitorado para o
Poder Público”, disse a professora, ao acrescentar que esses temas só
deixarão de ser dominantes quando tiverem sido solucionados para a
maioria da população.
Por outro lado, ainda há
pouco investimento em uma política de educação e mudanças de hábitos que
possa sustentar medidas importantes nessa direção. Algumas pesquisas
sobre hábitos com relação ao meio ambiente mostram que as pessoas têm
informação sobre os materiais que poluem o ambiente, mas a reciclagem
ainda não atingiu números satisfatórios, devido à falta de tempo das pessoas, a falta de motivação e a falta de coleta seletiva no município.
Na semana passada, representantes da
organização não governamental SOS Mata Atlântica lançaram, no Congresso
Nacional, um projeto para atrair o comprometimento de candidatos com a
área. Denominado Plataforma Ambiental 2012, o documento reúne os
principais pontos da agenda socioambiental, que devem ser discutidos,
respondidos e solucionados pelos dirigentes do país, como a implantação
da Política Municipal de Meio Ambiente e o Sistema Municipal de
Informações sobre Meio Ambiente, além da identificação de áreas de
preservação permanente (APPs).
“Nunca ouvimos tanto falar em
sustentabilidade, mas sustentabilidade para quem? Muita gente está
falando sem saber sequer o que é. Tem gente prometendo coisas que não
vai acontecer porque sequer é competência do vereador ou do prefeito”,
alertou Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS
Mata Atlântica.
Além de atrair o comprometimento de
políticos, a proposta é que o documento também seja usado pelos
eleitores para acompanhar e avaliar seus candidatos, sob pelo menos
cinco áreas de ação, como medidas voltadas ao desenvolvimento
sustentável, clima, educação, saúde e saneamento básico.
“O candidato pode aderir, e o eleitor
também pode levar a plataforma para o candidato e virar uma espécie de
avalista desse candidato para ver se é promessa política ou fato”,
acrescentou Mantovani.
Agência Brasil
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