As cooperativas de trabalhadores tornaram-se nos últimos anos uma boa
alternativa para milhares de brasileiros que encontram dificuldades
para entrar no mercado de trabalho. A economia solidária, que passa
praticamente despercebida por boa parte da sociedade, gera renda para
2,3 milhões de pessoas no país e movimenta, em média, R$ 12,5 bilhões
por ano. Segundo levantamento da Secretaria Nacional de Economia
Solidária (Senaes), existem no país 30.829 empreendimentos econômicos
solidários e o faturamento deles chegou a 0,33% do Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro em 2010 (R$ 3,7 trilhões).
Um bom exemplo de economia solidária é a Cooperativa de Catadores
Autônomos de Materiais Recicláveis da Vila Esperança (Avemare), criada
há seis anos por 40 pessoas, em Santana de Parnaíba, na Grande São
Paulo, após a prefeitura fechar o lixão da cidade. Hoje, a Avemare tem
90 cooperados, que conseguem uma renda média mensal de R$ 1,5 mil.
Segundo Iraci Alves, de 57 anos, que deixou a Bahia há 19 anos com seus
três filhos, a situação dela e dos cooperados melhorou muito após a
criação da Avemare. “Vim buscando uma condição de vida melhor, mas
acabei indo trabalhar no lixão de Santana de Parnaíba. Conseguíamos
tirar nosso sustento, mas era uma situação muito perigosa para a nossa
saúde”, lembra. A história de Iraci é muito parecida com a da maioria
dos associados.
A cooperativa começou reciclando 60 toneladas de materiais e, hoje,
alcança uma média de 375 toneladas por mês, mas já teve pico de 500
toneladas, de acordo com Iraci. “Com 60 toneladas não dá nem pra rodar
uma esteira”, relembra. Agora, a cooperativa conta com duas esteiras,
além de empilhadeiras e prensadeiras, totalizando R$ 1 milhão de reais
em equipamentos. “A verba veio de parceiros, da prefeitura, mas também
de investimentos próprios”, diz. A cooperativa é responsável pela
reciclagem de 12,5% das 3 mil toneladas de resíduos produzidos na
cidade.
“No início, a principal dificuldade foi trabalhar em grupo, porque
antes, no lixão, era cada um por si”, lembra. As dificuldades
encontradas no começo, no entanto, fazem com que a cooperada valorize
ainda mais as conquistas alcançadas por meio da organização dos colegas
catadores. Assim como Iraci, a maioria dos cooperados é formada por
pessoas vindas de outros estados e com baixo nível de escolaridade.
“Agora trabalhamos com itens de segurança, fazemos as refeições na
cooperativa, temos uma creche municipal pertinho, temos horário fixo de
trabalho e podemos sair para ir ao médico, se precisarmos, por exemplo”,
diz Iraci. Contribuição para Previdência Social e licença maternidade
foram outros benefícios trabalhistas assegurados. “No lixão, as mulheres
voltavam ao trabalho apenas um mês depois de dar a luz, porque
precisavam do dinheiro para sustentar a família”.
Iracilda Alves, de 28 anos, é filha de Iraci e começou a trabalhar no
lixão aos 9 anos de idade, junto com a mãe e os irmãos. Ela conta que na
cooperativa, mais do que conseguir seu sustento, se sente valorizada
como profissional. “Aqui aprendi a usar computador e conquistei a casa
própria. Jamais pensaria em voltar para o lixão. Por outro lado, não
penso em sair da Avemare”, diz.
Hoje, Iracilda é responsável pelo setor administrativo da cooperativa.
Com o crescimento profissional, ela pensa em retomar os estudos, que
foram abandonados na 8ª série do ensino fundamental, e se capacitar na
área administrativa. Agora, ela pode ver as filhas Eduarda, de 7 anos, e
Isabela, de 2, crescerem sem enfrentar as dificuldades pelas quais
passou. “Elas vão ter uma infância completa e ter oportunidades de
crescer com os estudos”, comemora.
Atualmente, a cooperativa conta com um lista de espera de cerca de 200
pessoas interessadas em trabalhar lá. Um dos recém-chegados é Jonas dos
Santos, de 35 anos, que chegou há apenas três semanas e comemora a vaga
conquistada. “Antes recebia mais ou menos R$ 500 como borracheiro e
agora espero ganhar mais. Além disso, você ajuda a natureza, porque a
cidade avança e acaba com tudo”, disse o cooperado.
De acordo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes),
houve um acréscimo de 88% de pessoas inseridas na economia solidária
entre 2005 e 2011. O Ministério do Trabalho define a economia solidária
como uma forma “diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é
preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem,
sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um
pensando no bem de todos e no próprio bem.”
Agência Brasil