O assunto foi discutido recentemente na reunião da SBPC em Recife
Afogados da Ingazeira (PE) Há mais de quase quatro décadas, o
engenheiro mecânico José Artur Padilha desenvolve um projeto chamado
Conceito Base Zero (CBZ), que promete, dentre outras coisas, resolver o
problema da escassez de água na região do Semiárido. Através da
construção de barragens subterrâneas em forma de arco romano deitado.
Com custo baixíssimo, a água é armazenada debaixo do chão, praticamente
livre da salinização e da evaporação que há mais de um século tornam os
mananciais de superfícies, como os açudes, fragilizados diante do nosso
clima.
A experiência de Zé Artur Padilha, 70 anos, vem sendo realizada nos
600 hectares da Fazenda Caroá, de sua propriedade, em Afogados da
Ingazeira, cidade distante 380 quilômetros de Recife e foi adotada pela
Agenda 21 na Área de Agricultura Sustentável do Governo Federal.
No último mês de julho, o assunto foi discutido no âmbito da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Por ocasião da
sua explanação, Padilha apresentou a reportagem sobre o CBZ publicada
pelo Diário do Nordeste, no dia sete de abril passado, bem como uma
matéria realizada pela TV Diário, através do repórter Flávio Rovere e do
cinegrafista José Melo.
Conceito
De acordo com Padilha, o CBZ preceitua que “para obter-se o
aproveitamento máximo permanente da energia incidente numa dada área
agrícola, é necessário ajustar as condições do terreno aos fluxos
naturais da água, favorecer sua retenção sem que se provoque salinização
e otimizando o uso da biomassa e dos elementos do solo”.
O engenheiro lembra que “as chuvas quando caem geram enxurradas
destrutivas que saem das bacias hidrográficas muito rapidamente e não
conseguem recarregar os aquíferos. Para enfrentar essa situação, são
construídos açudes, os quais, no entanto, não resolvem a situação e, em
certos lugares, até agravam os problemas, devido ao fenômeno da
salinização das águas represadas”.
Em relação às barragens, Padilha explica que “têm o formato de arco
romano deitado e rampado. São feitas exclusivamente com pedras do
próprio local, sem argamassa, arrumadas de modo inteligente, de forma
que trabalhem estruturalmente quase a uma compressão pura. Os
barramentos, acoplados em série, acabam formando platôs por conta da
erosão natural provocada pelas chuvas nas encostas adjacentes”, frisa
Padilha.
Segundo ainda o engenheiro, “esses platôs são férteis, possibilitando
a produção agropecuária normal, pois a água que escoa rapidamente, fica
armazenada muito mais tempo neles, devido à lenta percolação através do
solo e dos estragos geológicos imediatamente abaixo e pode ser
utilizada durante todo o ano, incluindo o período de estiagem”.
Questionado pela reportagem sobre quantas barragens seriam
necessárias para cobrir toda a área de 1.633.200 km² do Semiárido. Zé
Artur Padilha diz que, “considerando-se uma topografia com
movimentação/variabilidade de altitudes, em média, em toda a região,
julgo que seriam necessários de três a quatro barramentos de tamanhos
variáveis por hectare. Isso resultaria em 360 milhões de
diques-barramentos, entre micro, médias e grande. Esse número parece
assustador. Mas, se mobilizarmos 12 milhões de pessoas para construir em
média 30 barramentos/pessoa, seriam necessários apenas seis anos para
revolucionar todo o Semiárido”.
Custo mínimo
No que diz respeito aos custos, Padilha enfatiza que é uma estimativa
difícil “dada a total variabilidade de situações. O custo pode variar
desde valores mínimos, por exemplo, R$ 50,00 a R$ 1 milhão, se for no
Rio Jaguaribe, por exemplo. O investimento pode parecer alto, mas é
mínimo, se levarmos em consideração os benefícios que corrigirão os
desperdícios que foram cometidos historicamente com a construção de
gigantescos açudes sujeitos à evaporação”.
Tecnologia social
O Conceito Base Zero se enquadra entre as tecnologias sociais, que
são ações de pequeno porte com grandes resultados, de baixo custo e que
envolvem a mão de obra da própria comunidade.
Zé Artur faz questão de ressaltar que o CBZ deve ser aproveitado
juntamente com outras tecnologias que já ajudam o sertanejo a conviver
com as adversidades da região. É o caso das cisternas idealizados pela
Articulação do Semiárido (ASA) e que foram adotadas pelo governo federal
com grande êxito. “Todas essas ações conjuntamente podem mudar o perfil
da região”.
Em plena estiagem, constatamos na Fazenda Caroá os efeitos das
barragens implantadas por Zé Artur Padilha. Ali, os animais têm água à
disposição durante os 365 dias do ano graças a um simples sistema de
abastecimento d´água. No ponto alto da propriedade, foi construída uma
cacimba entre duas barragens.
É dali que, por meio da força de gravidade, e de 20 quilômetros de
encanamento, a água é levada para 50 bebedouros espalhados pela
propriedade.
“Os barramentos viabilizaram a acumulação de água no subsolo e a
construção do sistema gravitacional de condução, armazenamento e
distribuição de água subterrânea rasa. Essa água mostra uma diminuição
da salinização natural, devido às lavagens por escoamentos superficiais
ou lixiviações (separação do sal) subterrâneas, que a chuva e a
topografia favorecem”, conta Padilha.
Microbacia
Sobre os barramentos, o engenheiro diz que é necessário destacar dois
pontos. “Eles só devem ser construídos tendo em vista a microbacia como
um todo, o que exige um cuidadoso estudo completo de toda a área por
parte de construtores treinados. Além disso, exige um compromisso social
muito grande. O conhecimento pode ser adquirido em treinamento de um
único dia”.
“Nas primeiras enxurradas, será necessário nivelar repetidas vezes a
crista afetada pela acomodação das pedras. A manutenção pode ser
necessária depois do período inicial caso ocorram chuvas muitos fortes
no período”, conclui Padilha.
Condições necessárias
1) Apenas uma pequena área da bacia pode ser explorada para fins
agrícolas enfatizando-se uma exploração de culturas permanentes como as
de fruticulturas e respeitando as características da microbacia
hidrográfica onde está inserida; lembrando que essa microbacia faz parte
de uma bacia hidrográfica maior;
2) O tamanho da área agrícola deve ser calculado em função da precipitação e da evapotranspiração anual;
3) A área agrícola deve situar-se a jusante da área preservada;
4) O restante da microbacia deve ser explorado indiretamente mediante
a preservação de sua flora original submetida a um extrativismo em
proporções racionais da lenha naturalmente morta ou de estacas e mourões
para cercas divisórias. Porém a região preservada é explorada
indiretamente pelo homem por meio da pecuária extensiva, que exige um
manejo adequado para não degradar o ecossistema.
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