Está
em marcha acelerada no mundo, um triste fenômeno, que atesta o fracasso
da revolução verde e de seus métodos destruidores: um bilhão e duzentos
milhões de pessoas sem acesso à alimentação mínima necessária para
manterem-se capazes de executar algum trabalho para garantir a segurança
alimentar individual e de seus familiares no mundo, mas, para 800
milhões a fome já é endêmica. O restante, cerca de quatro bilhões e meio
de habitantes do globo, conseguem acesso à sua ração alimentar diária
suficiente apenas, quando se pode dispor de pelo menos um dólar
americano de renda individual, para sua subsistência, digo existência
altamente comprometida e fragilizada para o ataque constante de diversas
doenças relacionadas à baixa nutrição. Outros agricultores já respondem
por grande parte dessa população, menos de 5% que detém acesso a uma
dieta de cerca de 2.000 calorias diárias, pensam que estão fora de
risco, mas cada vez mais estão sendo literalmente envenenadas por
exposição aos agroquímicos de toda espécies, sejam eles fertilizantes,
agrotóxicos ou aditivos químicos existentes nos alimentos de origem
animal ou vegetal que consumidos ou remetidos para consumo de outrem. Os
primeiros morrem de fome os segundos de câncer e males circulatórios.
Mas
existe outro fenômeno que o mundo não tem prestado a devida atenção:
800 milhões de pessoas, em todo o mundo, se dedicam hoje à agricultura
familiar urbana, e o número vem crescendo aceleradamente. É a FAO quem
estima em 800 milhões o número de agricultores urbanos no mundo,
reconhecendo que esses agricultores ou ex-agricultores que migraram para
os grandes centros urbanos, já respondem por 15% de toda a produção
mundial de alimentos – uma alimentação muito mais variada e nutritiva,
não baseada apenas em cereais e outras commodities agrícolas. Uma das
causas é sem dúvida o grande, e, se pode dizer, maciço êxodo rural,
acompanhado pelo proporcional êxodo das atividades agrícolas, esse sim, o
mais perigoso para as comunidades rurais tradicionais.
Dados
do IBGE apontam para o crescimento das populações urbanas acentuada nas
últimas décadas e que o desenvolvimento rural, causado pelo modelo
tecnicista, não holístico e substituidor de mão-de-obra, causada muitas
vezes, pela própria adoção de máquinas e implementos, pela
monoatividade, pelo monocultivo granífero que vem ocupando cada vez mais
espaços/solos de grandes áreas brasileiras, expurgando assim, massas
inteiras de trabalhadores, não aproveitados por essas culturas, nem
pelos seus sistemas de cultivo empregados.
Daí
urge a necessidade, que se estabeleça uma planificação municipal,
estadual e regional para atender as demandas de técnicas, capazes de
absorver essas massas trabalhadoras, para que possam das continuidade as
suas atividades agrícolas, sendo mais saudáveis do ponto de vista
ecológico, mais econômico e que venha principalmente ao encontro das
necessidades de consumidores mais exigentes, localizados às margens ou
às proximidades das suas novas áreas, cada vez menores e que necessitam
de uso intensivo de mão-de-obra e de tecnologias, serviços e processos
que gerem produtos com maior produtividade por unidade plantada, com
rentabilidade e rendimento bem maiores, pra aumentar a oferta de
alimentos cada vez mais orgânicos.
Essas
atividades envolvem o plantio de hortaliças, frutas, grãos e ervas
medicinal e/ou aromáticas, pequenos bosques, áreas de permacultura,
flores e outras plantas ornamentais. Esses cultivos acontecem tanto em
cidades pequenas do terceiro mundo, como no coração de megalópoles do
mundo industrializado: Amsterdã, Paris, Nova York, Los Angeles,
Vancouver. Acontece no Brasil, com importância em Cachoeiro do
Itapemirim, Rio Branco do Sul e nas capitais como: Curitiba, Rio de
Janeiro, São Paulo dentre outras. Essa atividade é estratégica em
Havana, onde 26.000 habitantes são praticantes. Em Moscou (20.000), na
Philadelphia, em Kampala, na Cidade do México, Boston, Tirana, Nairóbi,
Bangkok, Perth, Sidney, Toronto, São Petersburgo, Shangai, Montevidéu,
Lima, Buenos Aires, Corrientes, La Paz, etc. Essa atividade está muito
bem apoiada pelos governos do Canadá, África do Sul, Austrália,
Alemanha, Índia e China. No Brasil, bem aqui, ainda estamos dormindo em
berço esplêndido.
Por
exemplo, em Chicago há criações de cabras e ovelhas além de abelhas em
plena cidade. O mesmo acontece em várias cidades da Inglaterra, onde a
criação de vacas é permitida. Na Cidade do México, a municipalidade tem
autorizado a criação de até 60 porcos em terrenos urbanos por família,
desde que observadas rígidas condições de higiene. Na maior parte das
cidades e países citados, a atividade d plantio convive com a criação de
animais, em plena zona urbana. As autoridades sanitárias ditam as
regras e mantêm a fiscalização. Os criadores tratam de segui-las e tudo
funciona muito bem. Na Philadelphia, a Universidade local está
implantando um Programa de apoio aos agricultores urbanos, que os
capacitará a desenvolver a piscicultura urbana, em tanques de moderna
tecnologia, com circulação e aeração, onde a produtividade chega ao
equivalente a 400 toneladas por hectare de Lâmina de água. Também o
cultivo de cogumelos está sendo incentivado.
A
FAO entende que “A agricultura urbana oficialmente sancionada e
promovida pode se tornar uma componente importante do desenvolvimento
urbano e proporcionar mais alimentação aos pobres urbanos. A agricultura
também pode proporcionar produtos mais frescos e mais baratos, mais
espaços verdes, o esvaziamento de aterros sanitários e a reciclagem do
lixo doméstico”. Outras vantagens dessa prática pode-se citar: a geração
de renda; a criação de empregos diretos e indiretos; absorção de
mão-de-obra do migrante rural; absorção da mão-de-obra adolescente;
oportunidade de trabalho para mulheres; ampliação da segurança
alimentar; substituição de importações municipais; reciclagem do lixo
doméstico urbano; reciclagem de águas pluviais; disponibilização de
alimentos de melhor qualidade ou mais frescos; alimentos mais baratos,
aumento da disponibilização de proteínas e fibras vegetais;
disponibilização de micronutrientes; melhora do meio ambiente urbano por
sequestro de carbono; melhoria da estética urbana; fortalecimento de
mercados intermunicipais; criação de agroindústrias; absorver
mão-de-obra da terceira idade e proporcionar a criação de hobbies.
Para
se concretizar e se perenizar a atividade da agricultura urbana,
tornando-a sustentável é necessário a tomada de algumas ações
importantes como: possibilitar o conhecimento dos agricultores de
contabilidade financeira básica e técnicas de vendas e outras atividades
relacionadas ao produto e ao consumo, como teoria de negócios, cálculo
de custos de produção, lucro e formação de preços, além da teoria da
gestão de estoques, estabelecendo metodologias de fácil entendimento
para que esses agricultores possam elaborar seus próprios fluxos de
caixa, determinar seus preços de equilíbrio, calcular seus custos de
produção, calcular seus lucros, determinar as quantidades a serem
produzidas sem prejuízo para atividade, criação de entrepostos para
comercialização direta ou para grandes varejistas locais.
ECO DEBATE
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