Experiências de manejo agroecológico promovidas por famílias
paraibanas das regiões da Borborema, do Cariri e do Curimataú foram
apresentadas hoje (29) aos cerca de 300 participantes do 3º Encontro
Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido.
O manejo consiste no plantio consorciado de árvores frutíferas,
grãos, tubérculos, plantas medicinais, espécies forrageiras usadas para a
alimentação de animais e árvores nativas do Semiárido, como angico,
sabiá e camunzé, entre outras. O sistema regenera a fertilidade natural
do solo e aumenta a contenção e acumulação de água, elemento fundamental
em uma região com períodos de seca prolongados.
Com a prática, os agricultores do Semiárido estão conseguindo aliar
sustentabilidade ambiental e geração de renda, possibilitando uma renda
adicional às famílias e reduzindo os riscos de entressafras e anos
ruins.
Uma das experiências relatadas no encontro é desenvolvida por José
Domingos de Barros, 59 anos, o seu Loro. Nascido no município de
Massaranduba, no agreste paraibano, ele tem há 30 anos uma propriedade
com 3 hectares - cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o
equivalente a um campo de futebol oficial. No local, durante muito
tempo, ele desenvolvia um cultivo tradicional, sem preocupação em manter
a biodiversidade e a mata nativa.
Nessa época, ele ocupava seu terreno com plantações de mandioca,
milho, fava, batata-doce e feijão, até que uma seca severa fez com que
ele tivesse que rever a forma de plantio.
"Desmatei muito, meu pai desmatava, a gente desmatava e não
replantava. Com o passar do tempo, foi acabando tudo e eu me perguntava
como minha família ia sobreviver”, relatou.
A prática do plantio agroecológico começou há dez anos, após seu
Loro participar de uma visita de intercâmbio promovida pelo Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba, com agricultores da região que
utilizavam este tipo de plantio. "Eu até dizia que a terra estava com
anemia braba. Com o passar do tempo, fiquei pensando o que fazer com a
terra, porque ela estava precisando de mim".
A recuperação do terreno começou com a plantação de espécies
adaptadas, como nim e gliricídia, em consórcio com o cultivo de laranja e
mandioca. Depois vieram os pés de banana e mamão, além de plantas
típicas do Semiárido, como palma e angico. Algumas delas, como a
gliricídia e a palma, são usadas para complementar a alimentação dos
animais durante a seca. Já o nim é utilizado como um pesticida natural.
Hoje, Loro cultiva espécies frutíferas para produção de caju, manga,
tangerina, graviola, além de três espécies de laranja: poncã, bahia e
mimo do céu, além dos limões taiti e galego, que são carros-chefes da
produção. Como lavoura temporária (culturas de curta duração), ele
plantou feijão-bravo, fava e melancia, em consórcio com joão-mole e
eucalipto.
O capim cortado, diferentemente de outras
plantações, não é retirado, mas deixado no solo, junto com as folhas da
vegetação, para proteger da erosão e da perda de nutrientes. Também não
há o uso de agrotóxicos. Pragas, como a mosca negra dos citros,
considerada a maior ameaça a esse tipo de plantação, é controlada com o
uso de técnicas da agricultura tradicional.
Para desenvolver a agroecologia, os
pequenos produtores precisam fazer a recomposição ambiental. Para
atender a essa finalidade, seu Loro resolveu, com o apoio do sindicato
de Massaranduba, criar um viveiro com espécies locais e adaptadas para a
região, para oferecer mudas de árvores como maçaranduba, angico,
jatobá, pau d'arco, nim e pau-brasil. As espécies são distribuídas
gratuitamente. Atualmente, a rede de viveiros de mudas já abrange cinco
município da região: Massaranduba, Solânia, Remigio, Alagoa Nova e
Esperança.
"Depois que eu comecei a trabalhar dessa forma, vi o quanto obtive
de retorno. Antes, os vizinhos achavam que eu era bobo por manter a
mata. Hoje, eles já estão entendendo o benefício que isso traz. Cada
muda que saí daqui é uma planta a mais para o sertão. Eu sinto que cada
pé de árvore que sai daqui é como se fosse uma criança nova no mundo",
filosofa Loro.
Vindo da Chapada Diamantina, região de
serras no centro da Bahia, o agricultor Reginaldo de Lima disse que
estava contente em poder compartilhar da experiência. "Na minha roça, eu
também estou fazendo o mesmo. Se cada um fizesse a sua parte, a gente
não teria tanto problema com a água", alertou.
Outro participante, Francisco de Sousa, prestava assessoria técnica
para os produtores familiares do Semiárido, mas resolveu experimentar o
"outro lado" e hoje desenvolve, junto com 35 famílias de Viçosa, no
Ceará, um trabalho de agroecologia na Serra da Ibiapaba, na divisa com o
Piauí.
"Nós trabalhamos com respeito a natureza. Hoje, conseguimos
recuperar boa parte da mata nativa. Não cortamos mais as árvores para
fazer lenha, plantamos algumas espécies, como o sabiá, para essa
finalidade, disse o produtor, também especializado na produção de
cítricos.
Agência Brasil
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