Autoridades filipinas ainda tentam dimensionar neste domingo o grande
rastro de destruição deixado pelo tufão Haiyan, que atingiu o país na
sexta-feira, provocando milhares de mortes e um caos generalizado, com
falta de água potável e episódios de saques nas áreas mais atingidas.
Mais de 300 corpos já foram recuperados na cidade de Tacloban, onde
autoridades estimam que o número de vítimas pode chegar a 10 mil. Na
cidade de Basey, na ilha de Samar, 300 pessoas foram confirmadas mortas e
outras 2 mil estão desaparecidas. Segundo o último balanço do governo,
cerca de 480 mil pessoas estão desalojadas.
Com muitas províncias sem energia ou telecomunicações, e aeroportos
localizados nas áreas mais atingidas, como Tacloban, especialistas dizem
que é impossível saber a extensão dos danos da tempestade - ou entregar
a ajuda tão necessária nesse momento. Mas se as estimativas divulgadas
até o momento forem confirmadas o tufão Haiyan será expressivamente mais
letal do que outras grandes tormentas. O furacão Katrina, que atingiu o
estado americano de Nova Orleans em 2005, deixou mais de 1.800 mortos,
enquanto a supertempestade Sandy, de 2012, matou 286 pessoas em sete
países.
O prefeito de Tacloban, Alfred Romualdex, que precisou ser
resgatado de um telhado, segundo o jornal "Inquirer", afirmou que é
“inteiramente possível” que 10 mil pessoas tenham morrido em decorrência
da tempestade. A estimativa também foi confirmada por Elmer Soria,
chefe da polícia regional da ilha de Leyte, onde está localizada a
cidade. Soria relatou que o governador provincial Dominic Petilla
afirmou, no sábado à noite, que o número de mortos poderia ultrapassar
os 10 mil, vítimas de afogamento, deslizamentos de terra e
desmoronamentos de casas e edifícios.
- Tacloban está totalmente
destruída. Algumas pessoas estão perdendo a cabeça, de fome ou pela
morte de parentes - relatou o professor Andrew Pomeda. - As pessoas
estão ficando violentas. Estão saqueando estabelecimentos comerciais,
apenas para encontrar comida, arroz e leite. Tenho medo de que em uma
semana, as pessoas vão estar matando por fome.
- As pessoas estão
andando como zumbis, procurando por comida - disse Jenny Chu, um
estudante de medicina em Leyte. - É como num filme.
O Haiyan teria
arrasado entre 70% e 80% dos prédios de Tacloban, no litoral leste do
país. Em algumas áreas da cidade, as águas subiram mais de 10 metros.
-
A água estava tão alta quanto um coqueiro. Enquanto éramos arrastados
pela água, vi muita gente levantando as suas mãos e gritando por ajuda -
lembrou um dos sovreviventes ao jornal "Inquirer".
O presidente
Benigno S. Aquino III, que declarou "estado de calamidade" no país,
chegou neste domingo à cidade de 22 mil habitantes para se encontrar com
algumas das vítimas da tempestade e coordenar esforços de resgate e
limpeza. Seu secretário de Defesa, Voltaire Gazmin, descreveu um cenário
caótico.
- Não há energia, não há água, não há nada - disse Gazmin. - As pessoas estão desesperadas. Elas estão saqueando.
A
falta de informações claras sobre a extensão dos danos levanta a
possibilidade de que outras áreas poderiam ter sido tão duramente
atingidas como Tacloban, onde foram concentrados os esforços de resgate.
-
De um helicóptero, você pode ver a extensão da devastação. Desde a
costa até um quilômetro para o interior, não existem estruturas de pé.
Foi como um tsunami - afirmou o secretário do Interior, Manuel Roxas. -
Eu não sei como descrever o que eu vi. É horrível.
A Embaixada dos
Estados Unidos em Manila fez uma doação de US$ 100 mil para os esforços
de saúde e saneamento. Uma equipe de avaliação de desastres das Nações
Unidas já chegou ao país.
"A última vez que vi algo nessa escala
foi após o tsunami no Oceano Índico", declarou Sebastian Rhodes Stampa,
chefe da equipe da ONU, disse em um comunicado, referindo-se ao tsunami
de 2004 que devastou parte da Indonésia e outros 13 países. "Esta é a
destruição em uma grande escala. Os carros foram jogados como se fossem
de papel".
O Conselho para a Gestão e Redução de Desastres do país
informou que cerca de 4 milhões de pessoas de 36 províncias das
Filipinas foram afetadas pelo fenômeno, qualificado por agências
meteorológicas como supertufão, já que seus ventos superaram os 240 km/h
— o Katrina, por exemplo, teve ventos de 175 km/h no máximo.
O
tufão direciona-se neste domingo às regiões central e norte do Vietnã,
onde mais de 500 mil pessoas foram retiradas de suas casas apesar das
previsões meteorológicas de que a tempestade vai enfraquecer. Ao menos
quatro pessoas já morreram, aparentemente na tentativa de escapar da
tempestade, informou a BBC.
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