O valor da escuta
- o pensador Leonardo Boff é um dos defensores mais fervorosos da
Ecologia no Brasil. Em sua análise sobre a cultura ocidental e sua
relação com a natureza, ele mostra como essa cultura é toda voltada para
o privilégio do olhar. Sabemos que outras culturas, além da visão,
privilegiam outros sentidos, como o da escuta, por exemplo. Os nossos
índios ainda afirmam que podemos escutar a fala das montanhas, dos rios e
das estrelas. Os xamãs são chamados para fazer a leitura daquelas
falas, decifrando seus sentidos. Comunicam com a natureza e respeitam
sua força e mistério.
De
acordo com Boff, para que possamos conviver bem com o natural,
precisamos aprender a escutar suas mensagens de modo a conseguirmos
decifrar suas satisfações ou advertências. Há toda uma pedagogia oculta
nos sinais da natureza. Olhar é fundamental, mas escutar também é
preciso. Para ele, muitos desastres poderiam ser evitados se as pessoas
tivessem escutado e decifrado melhor os avisos. Aprender a escutar as
vozes da natureza, compreender os seus sinais, as suas advertências e
clamores é essencial numa relação mais amorosa com o mundo. No caso da
tragédia de Petrópolis, os sinais da tragédia anunciada estavam à vista
de todos, antes, da tempestade se abater sobre a região.
O cuidado -
O cuidado é uma das qualidades mais importantes do ser humano.
Infelizmente tão pouco incentivada e, em grande parte, esquecida. Essa
atitude é uma das finalidades básicas do amor, pois este implica
encontro, cuidado, proteção e apego. E se não tivermos cuidado com nossa
mãe primeira, não teremos cuidado com nós mesmos. O cuidado é,
portanto, um pertencer da essência humana.
Cabe
aqui a frase bem conhecida: Quem ama cuida. Esse tema deveria ser
obrigatório desde o primário até os cursos superiores, já que somos o
que aprendemos. Basta olhar em volta para ver que não temos nenhum
cuidado com a natureza, retiramos tudo dela, esgotando seus recursos
sem a mínima preocupação. E o mais triste é que estamos fazendo do
ambiente natural uma imensa lixeira dos nossos dejetos. Acreditamos que o
mundo está aí a nossa disposição, pois somos os seres racionais e que,
portanto, temos um direito divino de dominar o que é irracional.
Precisamos com urgência desmentir essas falácias, pois a racionalidade
está em tudo, desde uma bactéria a uma galáxia.
A consciência
- Os homens precisam saber que o sistema-vida e o sistema-civilização
estão em crescente ameaça, pois a natureza e o humano estão em perigosa
rota de colisão. É para ontem e não para hoje nem amanhã, a necessidade
premente de começarmos a construir os alicerces do novo paradigma homem +
natureza. A conscientização dessas ameaças tem de ser estendida a todo
ser humano de bom senso. O tempo está passando, mas ainda podemos
recuperar a dimensão de encantamento com o mundo, criando um novo sonho.
Os paradigmas de conquista, expansão e exploração devem ser trocados
pelos de cuidado, respeito e sustentabilidade global. Essas atitudes
conjuntas podem impedir que as advertências da natureza se transformem
em tragédias. O que, segundo Boff, Não podemos esquecer que a natureza é
uma herança sagrada, uma oferta do Universo e de Deus, que nos entregou
para, ser amada e cuidada.
(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.
Revistaecologico
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