Estratégias inovadoras, adotadas por pequenos agricultores para
enfrentar os impactos da estiagem e das inundações no Semiárido
brasileiro, serão mapeadas e catalogadas a partir do ano que vem. A
ideia do projeto é entender como essas práticas sustentáveis têm impacto
nos sistemas de produção e na qualidade de vida das populações locais
para garantir que outras famílias possam se apropriar das técnicas
usadas.
A iniciativa é uma parceria entre o Instituto Nacional do Semiárido
(Insa), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e
a Articulação do Semiárido (ASA), rede formada por mil organizações da
sociedade civil que atuam nos estados do Nordeste e em Minas Gerais.
De acordo com Antônio Barbosa, coordenador de programa da ASA e um dos
responsáveis pelo projeto, serão observadas as práticas de 900 famílias
em nove estados (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe,
Bahia, Paraíba, Alagoas e Minas Gerais) durante a primeira fase do
projeto, marcada para começar em março de 2013.
“Vamos conhecer as práticas de agricultores que têm terras com até 15
hectares, perfil que engloba cerca de 90% das famílias que vivem no
Semiárido. Em um período de seca como a que temos visto, muitos deles
têm sofrido as consequências, mas há outros que desenvolvem estratégias
que os ajudam a passar quase sem perceber a seca. Queremos mapear essas
formas de manejo, saber como são montadas as estrutura de segurança, e
analisar os dados com números”, explicou.
Barbosa acrescentou que os primeiros resultados devem ser conhecidos ao
fim do ano que vem, com a conclusão da primeira fase. Em 2014, durante a
segunda etapa, serão selecionados os exemplos com maior impacto e
caráter inovador e que podem ser multiplicados com mais facilidade pelas
famílias do Semiárido. Com o apoio de centros de pesquisa e
universidades, serão realizados estudos de caso para avaliar, de forma
científica, os impactos das estratégias na qualidade do solo e das
sementes. Por fim, com base nos resultados apurados, serão formuladas
sugestões de políticas públicas e de ações para outros institutos e
organizações socais que atuam na região.
O coordenador de pesquisa do Insa, Aldrin Martin, informou que o
projeto será financiado em parte pelo ministério, e por parceiros que
ainda estão sendo definidos. Ainda não há estimativa exata do valor que
será necessário para a execução.
Há três anos, o pequeno agricultor Abelmanto de Oliveira, construiu
quatro barragens subterrâneas para armazenar a água da chuva em sua
propriedade de 10 hectares, em Riachão do Jacuípe, município a pouco
mais de 180 quilômetros de Salvador. Com a tecnologia, a água captada é
infiltrada no solo, eleva o lençol freático e viabiliza a prática da
agricultura mesmo em períodos de seca prolongada.
“A última vez que tivemos chuva intensa por aqui foi há dois anos, em
outubro de 2010. Mesmo assim, quem chega a esta área fica encantado,
porque o efeito que a gente percebe, a olho nu, é que foi criado um
verdadeiro microclima. A umidade relativa do ar aumenta e a vegetação se
manifesta”, disse.
Mesmo com a seca que atinge a região, ele consegue produzir feijão,
milho, mandioca e hortaliças. Além disso, aproveita as margens das
barragens para plantar capim para alimentação animal. O agricultor
gastou R$ 120 para construir as quatro barragens com capacidade de
armazenar 80 mil litros de água na superfície. “É uma técnica simples e
barata que qualquer agricultor pode fazer”, destacou. Oliveira, que também tem em sua propriedade uma cisterna que acumula
água da chuva para uso doméstico e uma cisterna-calçadão para produzir
alimentos e matar a sede de animais, calcula que a água armazenada seja
suficiente para o consumo da família pelos próximos meses.
“Com as tecnologias, consigo armazenar até 1,8 milhão de litros de água
em minha propriedade. A maioria das pessoas da minha região já depende
de carro-pipa por causa da estiagem, mas eu ainda tenho água para beber
por oito meses e para usos domésticos, como lavar roupa e tomar banho,
por cinco meses”, disse.
Agência Brasil
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