Arqueólogos já tinham notado há muito tempo que a complexidade
evidenciada pelos grupos humanos era intermitente, sem um padrão regular
de evolução. As causas dessa dinâmica, no entanto, têm sido alvo de
debates na academia.
Análises de sedimentos marinhos sugerem uma relação próxima entre as
mudanças no comportamento humano e as alterações climáticas no sul do
continente africano.
A pesquisa, conduzida por especialistas britânicos, suíços e espanhóis, foi publicada no periódico científico Nature Communications.
A equipe obteve um registro da variabilidade
climática dos últimos 100 mil anos por meio da análise de sedimentos
marinhos na costa sul-africana.
Martin Ziegler, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, comparou as mudanças em duas partes do mundo.
"Desobrimos que a África do Sul experimentou
rápidas transições climáticas rumo a condições mais úmidas na mesma
época em que o hemisfério Norte registrou condições de frio extremo",
diz.
"Quando comparamos a época desses fluxos
repentinos de umidade com os dados arqueológicos, encontramos
coincidências memoráveis. A ocorrência de diversas indústrias (de
ferramentas) aparentemente coincide intimamente com o início dos
períodos de mais chuvas", avalia Ian Hall, também da Universidade de
Cardiff.
"Da mesma maneira, a interrupção da fabricação
de ferramentas parece coincidir com a transição para condições
climáticas de maior seca", complementa.
No hemisfério Norte, as intensas ondas de frio
são relacionadas a uma mudança no fluxo de água quente do oceano
Atlântico para as latitudes mais altas.
Já no sul da África, a resposta foi o inverso.
Em vez de mais frio, houve um aumento de chuvas associado a uma mudança
do cinturão de monções mais para o sul.
Mais estudos
Os registros arqueológicos no sul da África são
vitais para compreender o desenvolvimento do comportamento moderno nos
humanos, porque eles contêm ainda as evidências mais antigas para
simbolismos e adereços pessoais.
"Impulsos (de desenvolvimento) no sul da África
motivados pelo clima foram provavelmente fundamentais para a origem de
elementos-chave do comportamento moderno na África, e para a subsequente
dispersão do Homo sapiens de sua terra natal ancestral", dizem os cientistas em seu artigo.
Chris Stringer, do Museu de História Natural de
Londres, também participou da pesquisa. Ele destaca os resultados do
trabalho mas diz que mais estudos são necessários.
"A qualidade dos dados do sul da África nos
permitiu fazer essas correlações entre o clima e as mudanças
comportamentais. Mas precisamos de mais dados de comparação de outras
áreas antes de afirmar que essa região foi unicamente importante para o
desenvolvimento da cultura humana moderna", diz.
BBC Brasil
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