Apenas 15% de toda a rede de esgoto em Alagoas são tratados, segundo a
Secretaria de Estado da infraestrutura (Seinfra). Isso significa que 85%
do esgoto produzido pela população no estado conhecido como o "Paraíso
das Águas" seguem em direção a rios, lagoas e mar. O problema se deve a
décadas de falta de investimento e planejamento no crescimento das
cidades.
Para o secretário da Seinfra, Marco Fireman, os prefeitos não têm muito
interesse em obras de esgotamento. "São obras que quebram a cidade
toda, causam transtornos imensos e depois ficam embaixo da terra.
Ninguém vê", diz.
O Brasil está muito atrasado nesta questão de saneamento básico, que
não envolve só coleta e tratamento de esgoto, mas também distribuição de
água e coleta de resíduos sólidos.
Para mudar esta situação crítica, que não é exclusividade de Alagoas,
mas acontece em todo o país, o governo federal faz investimentos por
meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em estacões de
tratamento por várias regiões.
Em Maceió,
de acordo com a Seinfra, apenas 32% do esgoto são tratados. E os
efeitos desse descaso são vistos não só em bairros da periferia, mas nos
cartões postais de Maceió. As belíssimas praias da capital são tomadas
por línguas negras. A pior situação é do riacho Salgadinho. Aquele
trecho da Praia da Avenida é motivo de vergonha para a cidade que recebe
tantos turistas.
Mas nas praias mais frequentadas, como Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca,
os banhistas também se deparam com as galerias pluviais que se tornaram
esgotos a céu aberto. Ao passar pelo Farol da Ponta Verde o mau cheiro
toma conta do lugar.
Se a situação nas lindas praias está assim, no bairros mais pobres é
muito pior. Na Levada, bem perto do Mercado da Produção e não muito
longe do Centro, a maioria dos moradores vivem às margens de um fétido
canal.
O local fica muito próximo à Lagoa Mundaú, lugar de beleza exuberante e
que seria mais uma atração turística para a capital, mas está
abandonado e maltratado pela população e seus governantes.
O aposentado Bendito Aves Dutra, 71, sabe bem como é viver em um local
sem tratamento de esgoto. Ele mora há 40 anos no bairro da Levada e diz
que o cheiro costumava ser insuportável, mas que já se acostumou. "Eu
nem sinto mais nada, a gente já acostuma com esse cheiro".
Marlon Clementino, 49, é açougueiro e também mora na região há 22 anos.
Ele diz que a situação só piora com o tempo, porque aumenta a população
e o canal fica cada vez mais sujo. Com relação a doenças ele diz que
não tem muitos casos. "Eu acho que a gente cria anticorpos e não pega
mais nada", diz com um sorriso de ironia.
Já a dona de casa Verônica Aquino dos Santos, 39, diz que vê muitas
crianças com diarreia e até com dengue. "Isso aqui é horrível, é
péssimo, é um descaso com a gente", diz.
Uma pesquisa realizada pela ONG Trata Brasil, divulgada no início deste
ano, mostra que Maceió está entre as dez piores cidades do país sem
saneamento básico. Foram registrados cerca de 300 casos de internação
por 100 mil habitantes.
A pesquisa foi realizada em 81 cidades com mais de 300 mil habitantes
entre os anos de 2003 e 2008, quando houve 67,3 mil internações por
diarreia nessas cidades. Em 2011, os gastos com esse tipo de internação
chegaram a R$ 140 milhões no país.
No interior do estado situações como a do bairro da Levada também são
comus. Há cidades que não tratam nada de esgoto. Na última semana, o
Ministério Público Federal disse que entrará com Ações Civis Pública e
Criminal na Justiça cobrando que quatro municípios do interior do estado
façam estações de tratamento de esgoto.
Nas cidades de Atalaia, Cajueiro, Pindoba e Capela o esgoto vem sendo
jogado diretamente nos rios que desaguam nas lagoas Mundaú e Manguaba.
Em Atalaia foi construída uma estação de tratamento há dez anos, mas
está abandonada. A obra custou R$ 2,5 milhões aos cofres públicos.
A procuradora da república Niedja Kaspary foi quem decidiu entrar com a
ação. "Trata-se de um crime de poluição. Os municípios tiveram todas as
oportunidades e o gestor não tem escolha, precisa adotar as medidas
para que o meio ambiente seja preservado", diz.
Metas
Segundo o secretário da Seinfra, Marco Fireman, até o final de 2013 Maceió alacançará 40% de tratamento de esgoto. E a meta é chegar em 60% até 2014.
Já para o estado a meta é alcançar 30%. "Até 2014 todos municípios
reibeirinhos do Rio São Francisco estarão com as obras de esgotamento
concluídas ou em andamento" afirma. Para Marco Fireman só em 2020 as
principais cidades de Alagoas estarão 100% saneadas.
Investimento
Só de recursos federais já foram investidos R$ 230 milhões e ainda estão sendo aplicados mais R$ 200 milhões. No total são R$ 430 milhões de investimentos em tratamento de esgoto em Alagoas, segundo a Seinfra.
G1 AL
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