Mais de 1,2 mil toneladas de agrotóxicos proibidos no país desde a
década de 1980 foram recolhidos no Paraná. A principal substância
devolvida pelos agricultores do estado foi o BHC ou hexaclorobenzeno. Os
defensivos fazem parte da lista dos 21 Poluentes Orgânicos
Persistentes, conhecidos como POPs na lista da Convenção de Estocolmo.
Pelo tratado ratificado por diversos países em 2004, diversas
substâncias devem ser extintas por causar grandes males à saúde humana e
ao meio ambiente.
No Paraná, pelo menos 2 mil agricultores aderiram ao programa criado
pelo governo, por fabricantes de agrotóxicos e por representações do
setor produtivo, como o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater), a Organização das Cooperativas do Estado do
Paraná (Ocepar) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná
(Sistema Faep).
O uso intenso desses defensivos no estado ocorreu até o fim dos anos
1970, quando o Paraná era apontado como um dos principais produtores de
café do país e os defensivos eram usados para evitar pragas resistentes
nessas plantações. Com a geada que afetou as lavouras em 1975, queimando
milhões de pés de café, os produtos excedentes ficaram guardados nos
imóveis.
“O estado tinha um problema com produtos obsoletos. Esses defensivos
foram banidos em 1985, mas ainda tinham registros no estado e estavam
escondidos nas propriedades. Se o agricultor declarasse a posse, teria
que se responsabilizar pela disposição final do produto, que é cara e
pouco conhecida. Sem solução, ele deixava aquilo na propriedade”, contou
João Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento
de Embalagens Vazias (inpEV), que representa a indústria fabricante do
produto e o sistema de logística reversa de embalagens do produto,
conhecido como Sistema Campo Limpo.
A tentativa de recolher os defensivos começou em 2009, quando os
agricultores que tinham essas substâncias estocadas começaram a declarar
a posse do material com a garantia de isenção de qualquer penalidade,
já que as substâncias não poderiam ter sido guardadas. Mais de 2 mil
agricultores e instituições declararam a existência de mais de 600
toneladas do produto inicialmente.
“A partir daí, estabelecemos a logística para que o agricultor
pudesse devolver o produto, com as cooperativas, a Federação de
Trabalhadores e as secretarias de governo [Meio Ambiente e Agricultura].
Criamos armazéns temporários para recolher tudo que, depois, foram
desmontados. Todo o produto foi incinerado em condições adequadas”,
disse Rando, lembrando que o programa durou nove anos, desde os
primeiros debates sobre a situação no Paraná, iniciados em 2004.
A quantidade de defensivos entregue no ano passado superou as
expectativas iniciais do grupo e a nova estimativa passou a ser a
retirada de mais de 1,2 mil toneladas do campo, que foi concluída neste
mês. O projeto tirou do meio ambiente esse volume de produto que
colocava em risco a questão ambiental e a saúde”, completou.
Especialistas explicam que os medicamentos e os agrotóxicos como o
BHC estão entre os mais persistentes no ambiente, podendo ser absorvidos
por animais em toda a cadeia alimentar e alcançar os seres humanos,
provocando doenças nervosas, imunológicas, reprodutivas e câncer.
Segundo Rando, o estado de São Paulo está desenvolvendo um programa
nos mesmos moldes do projeto paranaense. Mesmo ocupando uma área maior, o
uso de defensivos pelos agricultores paulistas não deve superar a marca
do Paraná.
“Esse trabalho passa a servir como modelo. O projeto de São Paulo já
tem quase dois anos e, como os POPs, não são um problema exclusivo do
Brasil, esse programa pode ajudar até outros países que têm que eliminar
essas substâncias”, concluiu.
Eco Debate
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