Um estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(USP) mostrou de que forma os transtornos mentais podem estar ligados a
pressões impostas no ambiente de trabalho. Esta é a terceira razão de
afastamento de trabalhadores pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS).
O coordenador da pesquisa, o médico do trabalho João
Silvestre da Silva-Júnior, trabalha como perito da Previdência Social há
seis anos e, tendo observado a grande ocorrência de afastamentos por
causas ligadas ao comportamento, decidiu investigar o que tem provocado
distúrbios psicológicos.
O cientista notou que a violência no
trabalho ocorre pela humilhação, perseguição, além de agressões físicas e
verbais e listou quatro razões principais que prejudicam a saúde mental
no ambiente corporativo.
A primeira delas é a alta demanda de
trabalho. “As pessoas têm baixo controle sob o seu ritmo de trabalho;
elas são solicitadas a várias e complexas tarefas”, disse o pesquisador.
O outro aspecto são os relacionamentos interpessoais ruins, tanto
verticais (com os chefes), quanto horizontais (entre os próprios
colegas).
A terceira razão é o desequilíbrio entre esforço e
recompensa. “Você se dedica ao trabalho, mas não tem uma recompensa
adequada à dedicação. A gente não fala só de dinheiro. Às vezes, um
reconhecimento, um elogio ao que você está desempenhando”, explica
Silvestre. O último aspecto citado pelo pesquisador é a dedicação
excessiva ao trabalho, que também pode afetar a saúde mental.
A
pesquisa coletou dados na unidade de maior volume de atendimentos do
INSS da capital paulista, a Glicério. Foram ouvidas 160 pessoas com
algum tipo de transtorno mental. Silvestre informa que, entre as pessoas
que pediram o auxílio doença nos últimos quatro anos, uma média de 10%
apresentava algum tipo de transtorno.
Segundo o Anuário
Estatístico da Previdência Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram
afastadas em razão de transtornos mentais, gerando um gasto de R$ 213
milhões em pagamentos de benefícios. “Quando você entende o que gera os
afastamentos, você pode estabelecer medidas para evitar os gastos”,
disse. As doenças mentais só perderam, naquele ano, para afastamentos
por sequelas de causas externas, como acidentes, e por doenças
ortopédicas.
Em São Paulo, a pesquisa constatou a alta presença de
trabalhadores do setor de serviços, como operadores de teleatendimento,
profissionais da limpeza e da saúde com doenças mentais. “Mas essa
variável do tipo de trabalho não se apresentou significativa no nosso
estudo. Ela não apareceu como algo que influencia o aparecimento do
transtorno mental incapacitante”, relata.
A pesquisa apontou que o
perfil predominante entre os afastamentos foi o feminino e alta
escolaridade (mais de 11 anos de estudo). Mas Silvestre alerta para uma
distorção, porque as mulheres têm maior cuidado com a saúde, o que
aumenta a presença feminina nas estatísticas.
“O sexo feminino
apresentar uma maior possibilidade de transtorno mental está relacionado
às mulheres terem facilidade em relatar queixas. Reconhece-se que as
mulheres procuram os médicos com mais facilidade, elas têm uma maior
preocupação com a saúde do que os homens”, contou. De acordo com o
cientista, os homens demoram a ir ao médico e, quando vão, encontram-se
em situação mais grave.
O fator escolaridade, segundo o estudo,
pode afetar a percepção da existência das doenças. A maioria dos
afastamentos ocorre com indivíduos de alta escolaridade, pois eles são
mais esclarecidos. “As pessoas conseguem ter uma maior percepção de que o
ambiente de trabalho está sendo opressor. Quando ela percebe que ali é
um local ruim de trabalhar, ela vem a adoecer, a ter o distúrbio
psicológico e termina se afastando”, disse.
Para melhorar o clima
no trabalho e prevenir doenças, Silvestre recomenda que os profissionais
ligados à saúde e segurança do trabalho das empresas tenham consciência
sobre onde estão os fatores de risco. Ele sugere também uma melhora da
fiscalização por parte dos Ministérios do Trabalho e da Saúde.
Jornal do Brasil
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