domingo, 26 de maio de 2013

Baratas evoluíram para evitar armadilhas com açúcar, diz estudo


As baratas são uma das pragas mais comuns do mundo animal e comem de tudo, menos açúcar. Isso porque elas evoluíram e aprenderam a evitar essa substância em armadilhas, aponta uma pesquisa publicada online na edição desta quinta-feira (23) da revista americana "Science".

Os cientistas concentraram o estudo na Blatella germanica (conhecida como barata-germânica ou francesinha), uma das 5 mil espécies de baratas, cujo habitat vai desde casas e apartamentos até escritórios, ou seja, qualquer lugar onde os seres humanos passam e deixam restos de alimentos para trás.

Um aparente "desdém" pelas armadilhas contendo doces foi observado pela primeira vez em algumas dessas baratas no começo dos anos 1990, cerca de oito anos após as iscas comerciais à base de glicose chegarem ao mercado e terem seu uso disseminado, afirmou à agência France Presse o professor de entomologia (ciência que estuda os insetos) Coby Schal, da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA.

Segundo os pesquisadores, as baratas evoluíram "incrivelmente rápido", e as novas gerações passaram a herdar uma aversão genética à glicose. Agora, Schal afirma que ele e seus colegas sabem por que isso acontece.

As baratas com aversão à glicose usam seus pequenos pelos do paladar para retirar amostras de alimento e ver se eles contêm glicose, cujo sabor para elas é amargo, e não doce.

"Elas saltam para trás como se tivessem levado um choque elétrico. É um comportamento muito, muito claro. Elas simplesmente se recusam a ingeri-lo. É um pouco como se você colocasse algo realmente amargo ou ácido na boca e imediatamente quisesse expeli-lo", explicou Schal. É difícil, porém, saber qual percentual de baratas desenvolveu aversão à glicose.

O estudo

Schal e seus colegas capturaram amostras de vários animais que causaram infestações em países como EUA, Rússia, Porto Rico e Coreia do Sul. Das 19 populações analisadas, sete continham baratas com aversão à glicose.

"É um fenômeno global. Não é restrito aos Estados Unidos", afirmou o cientista.

Para ilustrar o quanto esses insetos são perspicazes para sobreviver e prosperar sem glicose, a equipe filmou as criaturas enquanto escolhiam entre uma porção de gelatina à base de frutose e outra próxima com glicose.
Os pesquisadores também fizeram um vídeo das baratas evitando totalmente uma porção de geleia contendo glicose e concentrando-se em volta de uma bola de pasta de amendoim.

"Estamos mostrando que as baratas podem aprender incrivelmente bem. Elas podem associar a punição de degustar a glicose com o cheiro da isca", destacou Schal.

"Até onde sabemos, elas não fazem nada pela ecologia, além de serem pragas em nossos lares, associando-se a nós e provavelmente transmitindo doenças", declarou à AFP.

A indústria já sabia

Exterminadores profissionais já conhecem essa aversão das baratas há algum tempo. Por isso, a indústria agroquímica resolveu alterar as iscas para substituir a glicose por outros atrativos.

"Não usamos nenhum tipo de armadilha à base de açúcar durante anos", disse Bob Kunst, presidente da Fischer Environmental, empresa de controle de pragas no estado americano de Louisiana.

Kunst, que não participou do estudo, descreveu as baratas-germânicas como "pequenas criaturas imundas", pois podem transportar salmonela, uma bactéria geralmente presente em ovos, leite ou carne e capaz de causar intoxicação alimentar.

"Eu diria que alguns carboidratos elevados e proteínas básicas são muito populares com as baratas", apontou Kunst.

G1 Natureza

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