O grande desaparecimento de aves frugívoras (que comem frutos) das
florestas tropicais brasileiras, em decorrência da agricultura, tem
causado um impacto sobre as árvores da região, que têm produzido
sementes menores e mais fracas ao longo do último século. A conclusão é
de uma equipe de pesquisadores brasileiros, mexicanos e espanhóis, cujo
estudo será publicado na revista "Science" desta sexta-feira (31).
O trabalho foi liderado pelo especialista em ciências biológicas Mauro
Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro.
Segundo ele, os resultados fornecem evidências de que a atividade humana
pode desencadear mudanças evolucionárias rápidas nas populações
naturais.
Os autores coletaram mais de 9 mil sementes de diferentes populações da palmeira Euterpe edulis
– espécie nativa da Mata Atlântica, também chamada de içara ou
palmito-juçara, e ameaçada de extinção – em áreas de floresta
preservadas e outras devastadas por plantações de café e cana-de-açúcar
no século 19.
A equipe usou dados estatísticos, genéticos e modelos evolucionários
para chegar às conclusões. Segundo os cientistas, também foi considerada
a influência de vários fatores ambientais, como clima, fertilidade do
solo e cobertura florestal. Apesar disso, apenas a ausência das aves que
comem frutos e espalham sementes já explicaria a diminuição do tamanho
dos grãos das palmeiras.
De acordo com as análises genéticas, o encolhimento das sementes na
região pode ter ocorrido dentro um século após algum tipo de perturbação
local. Além desses fatores, longos períodos de seca e um clima cada vez
mais quente na América do Sul podem ter prejudicado ainda mais essas
populações de palmeiras, alertam os pesquisadores.
Ao lado da Unesp, participaram cientistas da Universidade Federal do
Oeste do Pará, em Santarém, da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFFRJ), da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade
de São Paulo (USP) na capital paulista e em Piracicaba, da Rede de
Biologia Evolutiva do México, em Veracruz, e da Estação Biológica de
Doñana, em Sevilha, na Espanha.
G1
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