A ‘ditadura do corpo perfeito’ determinado pela sociedade como
padrão de beleza tem feito com que muitas pessoas ignorem os riscos de
doenças e morte, e cometam exageros para serem ‘aceitas’. Anabolizantes,
cirurgias plásticas e medicamentos para emagrecer são usados
indiscriminadamente.
Uma pesquisa em academias, do doutor em
Fisiologia do Exercício da UFPB, Amilton da Cruz Santos, mostra que os
esteróides e anabolizantes (EA) aumentam o risco de AVC, infarto e morte
súbita. A cada dia, quatro pessoas fazem uma cirurgia plástica, no
Estado.
O problema, segundo especialistas, virou uma 'obsessão
global' e tem destruído vidas, como a de Robson Alves, 39 anos, que
sonhando em ganhar músculos rapidamente, entrou num verdadeiro pesadelo
após ter os braços deformados com a aplicação de óleo mineral.
Os
esteróides e anabolizantes (EA) aumentam o risco de AVC, infarto e
morte súbita. Eles elevam a pressão arterial, reduzem o fluxo sanguíneo
muscular e alteram o controle do coração. Essas variações podem ter
repercussões cardiovasculares graves, podendo levar a óbito, ou seja, os
usuários de EA estão mais susceptíveis a estas doenças. As constatações
foram feitas durante um estudo realizado há um ano e meio pelo doutor
em Fisiologia do Exercício, do Departamento de Educação Física da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Amilton da Cruz Santos.
Para
chegar a estas conclusões, ele avaliou, durante seis meses, dez pessoas
com idade entre 18 e 45 anos, usuárias de anabolizantes e/ou
androgênicos que realizam musculação pelo menos três vezes por semana, e
outras dez que não são usuárias das substâncias. Elas foram pareadas
por idade, sexo, índice de massa corporal (IMC) e recrutadas de
academias da Grande João Pessoa.
Foi medido o fluxo sanguíneo por
plestismografia de oclusão venosa (padrão ouro) – que verifica a
resistência e complacência dos sistemas arterial e venoso; frequência
cardíaca por eletrocardiografia convencional; pressão arterial e a
atividade autonômica cardíaca. “Comparamos os resultados dos pares e
concluímos que o grupo usuário de EA tem o fluxo sanguíneo e
cardiovascular comprometido, e há aumento da pressão arterial. No grupo
de indivíduos mais jovens – 18 a 25 anos – a pressão arterial estava
aumentada. Enquanto o normal tem que ser de, no máximo, 120 milímetros
de mercúrio e a diastólica até 80, eles apresentaram 130X85 e até
140X90”, observou.
Além disso, a taquicardia pode levar à
hipertrofia maligna cardíaca. Quanto mais dependente destas substâncias,
maior o risco destas pessoas desenvolverem problemas cardíacos”,
destacou. As pessoas acima de 40 anos usuárias de EA também apresentaram
pressão arterial maior, caracterizando hipertensão. “Pressupomos que na
casa dos 40 estas pessoas ainda não têm alterações da pressão arterial.
Eram ativas, o que preserva a elasticidade dos vasos sanguíneos. Daí a
constatação de que a elevação está relacionada ao uso de EA”.
No
final da pesquisa, não foram encontrados usuários de EA com 50 anos, mas
até mais de 45 anos, sim. De acordo com o educador físico Amilton da
Cruz Santos, responsável pelo estudo, eles acreditam que podem competir
como halterofilistas e outros querem garantir a massa muscular que vai
se perdendo com a idade. “O uso de EA tem a ver com a performance;
atletas usam para isso. Na academia, é para definir musculatura
corporal; querem ter um corpo mais bonito”, esclareceu.
Deformado pelo óleo mineral
Há
dois anos, o desempregado Robson Alves da Silva, 39, luta para fazer
uma cirurgia nos músculos dos braços. Por indicação de um conhecido, ele
resolveu aplicar injeções de óleo mineral. O efeito, que no início,
parecia bom, foi bem diferente do que ele esperava. Os braços ficaram
endurecidos, roxos, com nódulos e pioram a cada dia. Além disso, ele
quase não tem força. O que era uma tentativa de ter boa aparência para
tentar um emprego de segurança acabou sendo a pior experiência de sua
vida.
A peregrinação em busca de solucionar o problema começou em
Bayeux, município onde mora. Como não conseguiu ajuda, percorreu vários
hospitais de João Pessoa, sem sucesso. “Agora, só ando com a camisa
cobrindo os braços, que queimam sem parar, como se tivesse uma brasa.
Coloco até gelo, mas nada adianta. Alguns médicos disseram que é uma
cirurgia complicada e corro o risco de perder os braços”, lamentou. Ele
chegou a procurar uma clínica particular, mas não tem condições de pagar
a cirurgia que custa mais de R$ 9 mil. “Me arrependo demais. Já perdi
as contas de quantas vezes chorei por causa disso”.
O cirurgião
plástico Wagner Leal disse que a aplicação de óleo mineral com o
objetivo de obter o crescimento dos membros superiores em pouco tempo
tem sido frequente na Paraíba. Ele alertou que não há recomendação
científica para esse uso. Além disso, o caso é de difícil solução. “O
uso da substância dá muito problema e está exagerado. Cabe às
secretarias de saúde fazerem um alerta”, observou.
Os
especialistas paraibanos, segundo o cirurgião plástico Saulo Montenegro,
têm feito várias cirurgias para correção de deformidades por uso de
substâncias proibidas. “O resultado das injeções de óleo mineral nos
braços e nádegas é desastroso. As cirurgias são complexas, ocorrem em
várias etapas e, normalmente, não levam a um resultado positivo”.
Na
realidade, segundo Wagner Leal, o efeito da cirurgia corretiva é
imprevisível, pode deixar sequelas e haver perda de movimentos. Robson
Alves da Silva apelou a empresários e médicos que possam ajudá-lo a se
curar. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Bayeux, onde ele
mora, mas até o fechamento da edição não obteve êxito.
Jornal Correio da Paraíba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário