domingo, 19 de maio de 2013

Anabolizante molda corpo, mas traz AVC e morte súbita


A ‘ditadura do corpo perfeito’ determinado pela sociedade como padrão de beleza tem feito com que muitas pessoas ignorem os riscos de doenças e morte, e cometam exageros para serem ‘aceitas’. Anabolizantes, cirurgias plásticas e medicamentos para emagrecer são usados indiscriminadamente. 

Uma pesquisa em academias, do doutor em Fisiologia do Exercício da UFPB, Amilton da Cruz Santos, mostra que os esteróides e anabolizantes (EA) aumentam o risco de AVC, infarto e morte súbita. A cada dia, quatro pessoas fazem uma cirurgia plástica, no Estado. 

O problema, segundo especialistas, virou uma 'obsessão global' e tem destruído vidas, como a de Robson Alves, 39 anos, que sonhando em ganhar músculos rapidamente, entrou num verdadeiro pesadelo após ter os braços deformados com a aplicação de óleo mineral. 

Os esteróides e anabolizantes (EA) aumentam o risco de AVC, infarto e morte súbita. Eles elevam a pressão arterial, reduzem o fluxo sanguíneo muscular e alteram o controle do coração. Essas variações podem ter repercussões cardiovasculares graves, podendo levar a óbito, ou seja, os usuários de EA estão mais susceptíveis a estas doenças. As constatações foram feitas durante um estudo realizado há um ano e meio pelo doutor em Fisiologia do Exercício, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Amilton da Cruz Santos. 

Para chegar a estas conclusões, ele avaliou, durante seis meses, dez pessoas com idade entre 18 e 45 anos, usuárias de anabolizantes e/ou androgênicos que realizam musculação pelo menos três vezes por semana, e outras dez que não são usuárias das substâncias. Elas foram pareadas por idade, sexo, índice de massa corporal (IMC) e recrutadas de academias da Grande João Pessoa. 

Foi medido o fluxo sanguíneo por plestismografia de oclusão venosa (padrão ouro) – que verifica a resistência e complacência dos sistemas arterial e venoso; frequência cardíaca por eletrocardiografia convencional; pressão arterial e a atividade autonômica cardíaca. “Comparamos os resultados dos pares e concluímos que o grupo usuário de EA tem o fluxo sanguíneo e cardiovascular comprometido, e há aumento da pressão arterial. No grupo de indivíduos mais jovens – 18 a 25 anos – a pressão arterial estava aumentada. Enquanto o normal tem que ser de, no máximo, 120 milímetros de mercúrio e a diastólica até 80, eles apresentaram 130X85 e até 140X90”, observou. 

Além disso, a taquicardia pode levar à hipertrofia maligna cardíaca. Quanto mais dependente destas substâncias, maior o risco destas pessoas desenvolverem problemas cardíacos”, destacou. As pessoas acima de 40 anos usuárias de EA também apresentaram pressão arterial maior, caracterizando hipertensão. “Pressupomos que na casa dos 40 estas pessoas ainda não têm alterações da pressão arterial. Eram ativas, o que preserva a elasticidade dos vasos sanguíneos. Daí a constatação de que a elevação está relacionada ao uso de EA”. 

No final da pesquisa, não foram encontrados usuários de EA com 50 anos, mas até mais de 45 anos, sim. De acordo com o educador físico Amilton da Cruz Santos, responsável pelo estudo, eles acreditam que podem competir como halterofilistas e outros querem garantir a massa muscular que vai se perdendo com a idade. “O uso de EA tem a ver com a performance; atletas usam para isso. Na academia, é para definir musculatura corporal; querem ter um corpo mais bonito”, esclareceu.

Deformado pelo óleo mineral

Há dois anos, o desempregado Robson Alves da Silva, 39, luta para fazer uma cirurgia nos músculos dos braços. Por indicação de um conhecido, ele resolveu aplicar injeções de óleo mineral. O efeito, que no início, parecia bom, foi bem diferente do que ele esperava. Os braços ficaram endurecidos, roxos, com nódulos e pioram a cada dia. Além disso, ele quase não tem força. O que era uma tentativa de ter boa aparência para tentar um emprego de segurança acabou sendo a pior experiência de sua vida. 

A peregrinação em busca de solucionar o problema começou em Bayeux, município onde mora. Como não conseguiu ajuda, percorreu vários hospitais de João Pessoa, sem sucesso. “Agora, só ando com a camisa cobrindo os braços, que queimam sem parar, como se tivesse uma brasa. Coloco até gelo, mas nada adianta. Alguns médicos disseram que é uma cirurgia complicada e corro o risco de perder os braços”, lamentou. Ele chegou a procurar uma clínica particular, mas não tem condições de pagar a cirurgia que custa mais de R$ 9 mil. “Me arrependo demais. Já perdi as contas de quantas vezes chorei por causa disso”. 

O cirurgião plástico Wagner Leal disse que a aplicação de óleo mineral com o objetivo de obter o crescimento dos membros superiores em pouco tempo tem sido frequente na Paraíba. Ele alertou que não há recomendação científica para esse uso. Além disso, o caso é de difícil solução. “O uso da substância dá muito problema e está exagerado. Cabe às secretarias de saúde fazerem um alerta”, observou.

Os especialistas paraibanos, segundo o cirurgião plástico Saulo Montenegro, têm feito várias cirurgias para correção de deformidades por uso de substâncias proibidas. “O resultado das injeções de óleo mineral nos braços e nádegas é desastroso. As cirurgias são complexas, ocorrem em várias etapas e, normalmente, não levam a um resultado positivo”. 

Na realidade, segundo Wagner Leal, o efeito da cirurgia corretiva é imprevisível, pode deixar sequelas e haver perda de movimentos. Robson Alves da Silva apelou a empresários e médicos que possam ajudá-lo a se curar. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde de Bayeux, onde ele mora, mas até o fechamento da edição não obteve êxito.

Jornal Correio da Paraíba.

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