Em um flash de 3 segundos, o paraplégico Juliano Pinto,
de 29 anos, usando uma veste robótica que seria comandada pelo cérebro,
moveu seu pé direito e deu um pequeno chute em uma bola de futebol
durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira (12).
Antes do espetáculo musical que apresentou a faixa-título da Copa, a demonstração esperada desde 2011 por paraplégicos de todo o mundo e que consumiu R$ 33 milhões - boa parte vinda do governo federal
- foi vista apenas de relance. Em pé, Juliano, vestindo a estrutura
metálica que pesa 70 quilos e apoiado por duas pessoas, mostrou o
resultado do trabalho de 156 cientistas de 25 países que, liderados pelo
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, viabilizaram a demonstração no início do campeonato.
"Somos a favor de avanços tecnológicos e pesquisas científicas,
mas não podemos concordar com a 'espetacularização' de uma tecnologia
incipiente e que não está madura para produção em massa. A exposição
causará falsas expectativas nas pessoas com deficiência
e reforçará estigmas negativos e preconceitos. Não me parece promissor,
não ajudará pessoas com deficiência a voltarem a andar e não será
utilizado no dia a dia (tanto pelo custo impraticável como pela falta de
autonomia). Finalmente, parece-me absurdo investir mais de R$ 33
milhões (boa parte de recursos públicos) em algo que não trará
benefícios ou soluções. Agrego a tudo isso profunda decepção com a
participação do exoesqueleto na cerimônia de abertura,
que acabo de assistir. Sem dúvida, a demonstração evidenciou que o
experimento não funciona e não atendeu sequer as promessas divulgadas.
Decepcionante!" - Luiz Portinho, advogado gaúcho e presidente da Rio Grande do Sul Paradesporto
"Vi algumas demonstrações do exoesqueleto nos Estados Unidos, em
versões preliminares. No entanto, é muito grande e não serve para todos.
Acho que ele deve ser combinado com estímulos elétricos para promover
movimentos mais ativos, em vez dos completamente passivos. É um bom
começo e beneficiará várias pessoas com deficiência." - Paul Lu,
cientista americano paraplégico que pesquisa o uso de células-tronco
para lesões de medula na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD),
nos Estados Unidos
"O que foi exibido ao mundo,
infelizmente, é tudo o que já se sabia do exoesqueleto: uma dúvida
profunda a respeito de todos os seus potenciais, desdobramentos e
capacidades. A questão, agora, não é mais ser cético em relação a um
avanço científico que pode revolucionar vidas, é cobrar vigorosamente
seriedade e luminosidade com promessas que envolvam dinheiro público,
almas angustiadas e anseios de milhões de pessoas." - Jairo Marques, jornalista, cadeirante paulistano e colunista do jornal Folha de S.Paulo
"Esse pequeno chute é um grande passo para a ciência, que mostra que o
homem é capaz de sonhar e de tentar colocar em prática seus sonhos. No
entanto, acredito que pesquisas como a estimulação elétrica, feita por
pesquisadores brasileiros, é uma maneira bem mais inteligente de
recuperar os movimentos dos paraplégicos. São duas frentes de estudos
que podem fazer com que pessoas com lesões medulares possam realizar o
sonho de voltar a andar." - Benny Schimidt, chefe do laboratório de patologia neuromuscular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
"A demonstração é um ato simbólico do esforço para usar a ciência e a
robótica moderna no lugar da tecnologia centenária das cadeiras de
rodas. Podemos e devemos superar essa era antiga e fazer algo melhor.
Nicolelis e seus colegas estão, claramente, dando um passo nessa
direção. O mais importante é que essa tecnologia possa se tornar prática
e útil para pessoas com lesões e que ela seja tão confiável e efetiva
quanto uma cadeira de rodas. Veremos no futuro se esse será ou não o
caso." - Mark Tuszynski, neurocientista americano e
diretor do Center for Neural Repair da Universidade da Califórnia em
San Diego (UCSD), nos Estados Unidos
"A demonstração é
positiva, pois chama a atenção para os paraplégicos. No entanto, é um
show para abertura da Copa, sem mostrar grandes avanços científicos. Em
2012, uma paraplégica correu uma maratona com um exoesqueleto e essa não
é uma tecnologia nova. Além disso, a estrutura é muito pesada, de 70
quilos e, se houver uma queda, isso pode levar a graves lesões — pessoas
com lesões medulares costumam ter osteoporose e qualquer queda é
perigosa. O exoesqueleto não vai resolver o problema de quem tem lesões
medulares." - Alberto Cliquet Júnior, professor
titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp e de
Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo (USP)
"Mesmo depois da demonstração não fica muito claro se isso será um
avanço. A ciência, tradicionalmente, é movida por cientistas que
publicam suas descobertas em revistas científicas rigorosas que promovem
uma análise justa dos feitos dos cientistas. Isso ainda não foi feito
com o projeto Andar de Novo. Estou curioso para o momento em que isso
seja feito e então cientistas e engenheiros poderão avaliar os
progressos que esse time fez." - Daniel Ferris, neurocientista e professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos
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