Dos 223 municípios da Paraíba, 203 já
estão sob ameaça de desertificação – 93,27% do total. Em 2009, eram 198
nessa situação (87,78%). O avanço desse processo é agravado com a
estiagem prolongada, considerada como uma das piores dos últimos 30
anos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a situação da maioria dos
solos no Estado foi classificada, quanto aos riscos de desertificação,
como grave (14,76%) ou muito grave (57,06%).
Mais de 72% dos solos agricultáveis na Paraíba foram atingidos pelo
estado de desertificação. O Estado é um dos mais atingidos por esse
processo, segundo relatório da organização internacional Greenpeace.
Mais de 1,7 milhão de pessoas – metade da população paraibana – sofre
com os efeitos desse processo.
O secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Estado, Marenilson
Batista, confirma o avanço da desertificação. Ele disse que mesmo em
áreas verdes é possível observar a degradação da vegetação nativa e o
aparecimento de areais.
O processo de desertificação se alastra em áreas como a do
Compartimento da Borborema. Segundo dados da Associação de Proteção ao
Meio Ambiente, 80% da área territorial de Campina Grande estão
totalmente desertificadas.
Estudioso do semiárido, o deputado estadual e professor da UFPB,
Francisco de Assis Quintans, alerta que muito se fala sobre seca, que
cíclica, mas a desertificação precisa de ações permanentes. “Nada está
sendo feito, seja pelos governos do Estado, Federal ou pelos
municípios”, queixa-se.
Municípios como o de Santa Luzia (a 178 quilômetros de João Pessoa,
no Sertão paraibano) enfrentam exôdo sem precedentes. Apenas 8% dos
moradores ainda resistem deixar a zona rural. O município tem uma
população de 13.489 habitantes, sendo que apenas 1.240 não residem na
cidade. Há mais de três dias a cidade não tem água nas torneiras.
Patos (a 294 quilômetros da Capital, no Sertão) enfrenta a seca,
temperaturas acima dos 30 graus centígrados ao dia e umidade relativa do
ar entre 11% e 16%, comparada as registradas no deserto do Saara, na
África.
Na região do Cariri, a falta de chuvas provoca colapso no
abastecimento de água. Na cidade de Cabaceiras (localizado na
microrregião do Cariri Oriental,a 180 km de João Pessoa) falta água há
mais de meses. O município, que ficou famoso no país por servir de
cenário para o filme o ‘Auto da Compadecida’, fica a cerca de 300 metros
acima do nível do mar, na área mais baixa do Planalto da Borborema. Tem
um população estimada em 5.035 habitantes, segundo censo do IBGE em
2010. Deste total, 2.217 habitantes estão na zona urbana e 2.818 na zona
rural.
Um relatório do Greenpeace, em 2009, já destacava que, na Paraíba, a
bacia hidrográfica do rio Taperoá (Cariri paraibano) apresentava um
processo significativo de desertificação e o município de Cabaceiras
apresentava áreas comprometidas. “Há uma perda da biodiversidade. Em
função da severidade climática e do desmatamento para uso agropecuário,
vem aumentando a área de caatinga baixa e rala na região”, alertava o
relatório.
Para o secretário Maerinlson Batista, o trabalho de recuperação
dessas áreas é lento e precisa ser trabalhado a partir de agora, com
plantação de vegetação resistente ao clima quente e seco. Segundo ele, o
Programa de Desenvolvimento Sustentável do Cariri e Seridó (Procase),
que vai permitir o financiamento dos projetos de famílias de
agricultores e cooperativas, ajudará nesse trabalho. Em convênio com o
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), o Procase prevê
investimentos de R$ 100 milhões.
O Procase irá convergir com outros programas desenvolvidos pelo
Estado para convivência com a estiagem, como distribuição de ração,
raquetes de palma, cisternas, poços, além dos investimentos de R$ 220
milhões em adutoras no Estado.
O ambientalista Roberto Almeida observou que a caatinga (bioma do
semiárido) paraibana vem sendo agredida nos últimos 50 anos, devido ao
tráfico de lenha. O diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa),
Ignacio Hernan Salcedo, alerta que o desmatamento está associado ao
consumo de lenha (70% de consumo doméstico e 30% de consumo industrial)
no semiárido Paraibano.
Apenas terras indígenas e unidades de conservação federal e
estaduais, que
ocupam 82,9 mil hectares, são protegidas por lei contra o
desmatamento. A área corresponde a 1,42% do território paraibano.
A seca e a desertificação impõe o sacrifício do rebanho bovino. “Uma
parte do rebanho foi vendida e outra parte está morrendo por conta da
seca”, diz o presidente da Federação da Agricultura do Estado da Paraíba
(Faepa), Mário Borba. A Paraíba tinha, segundo o IBGE, 1 milhão e 354
mil cabeças de gado em 2011. Pelos cálculos da Faepa, no final de 2012
esse número cairá para 950 mil.
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