"O Auto da Compadecida 2",
que estreia no dia 25 de dezembro em todo o Brasil. A continuação do clássico
do cinema nacional baseado na obra do paraibano Ariano Suassuna é um dos
lançamentos mais aguardados do ano.
Dizem por aí que a
nostalgia vende. Isso porque nada melhor do que relembrar produtos que marcaram
épocas diferentes das nossas vidas. A proposta de '’O Auto da Compadecida
2" segue esta linha: resgatar memórias afetivas e revisitar lugares da
infância de muitos nordestinos.
Em
determinado momento, eu flagrei meus olhos se fechando quando o demônio
pareceu. Um instinto de memória da infância, quando eu era aterrorizada pela
figura que esteve no julgamento de João Grilo. Estes mesmos olhos lacrimejaram
nas cenas da amizade mais querida do Brasil: Chicó e seu amigo amarelo safado
João.
O filme foi
produzido em estúdio, diferentemente do primeiro, que foi gravado em Cabaceiras
e que, talvez, pela projeção, deu à cidade paraibana o nome de “Roliúde
Nordestina”. Com isso, a direção gráfica mergulhou na criatividade, resultando
em cenas que me lembraram a série da Globo “Hoje é Dia de Maria” e seu lúdico
místico sertão nordestino.
Neste
místico sertão, João Grilo volta a Taperoá anos depois de sua ressurreição,
surpreendendo Chicó, que agora, sozinho, se dedica a declamar a jornada do
heroi-amigo em versos. Os moradores da Caatinga continuam sofrendo por causa da
seca que vem com a CERCA: o coronel monopoliza a água, e todos precisam esperar
que o clima árido derrame chuva.
Diante da exploração,
sobram duas coisas para os pobres nordestinos: a brincadeira e a fé do
catolicismo popular. Em vários momentos, lembrei do Canindé ou da terra do
Padim Ciço, com suas estátuas gigantes e fitinhas. Há quem chame de idolatria,
mas eu vejo esta fé como a única faca amolada que o povo traz na bainha,
enquanto atravessa brincando as matas da caatinga e seus espinhos.
Para
enfrentar as dificuldades, a dupla, mais uma vez, conta com a brincadeira:
entre santos, os artistas de rua fazem suas presepadas e pregam peças. Há quem
chame de enganação, mas é certo que até os santos se divertem com o malandro
brincante que ri como forma de dizer “estou vivo”.
Quem for ao
cinema esperando um filme como o primeiro talvez vai se decepcionar. Quem for
com as memórias abertas, talvez se emocione ao perceber que todo nordestino
pobre tem um pouco de Chicó e João Grilo ou ainda chorar com a voz de Maria
Bethânia cantando para Nossa Senhora das Candeias.
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