Após cinco anos de estudos, pesquisadores do Brasil, dos Estados
Unidos, da Africa do Sul, Austrália, Alemanha, França, de Portugal, do
Uruguai e da Argentina desvendaram as semelhanças geológicas entre os
continentes Africano e Sul-Americano. Eles pesquisaram a correlação dos
terrenos que formam a parte Oeste da África com o Leste da América do
Sul.
Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Miguel Basei,
coordenador do estudo no Brasil, foi possível definir numerosos locais
do Oeste da África que, ao redor de 500 milhões de anos atrás, estavam
unidos a seus congêneres sul-americanos. “São terrenos que eram
contínuos, mas foram separados quando da abertura do Oceano Atlântico.
Essa identificação foi um dos pontos centrais de nossa pesquisa”,
declarou Basei.
Pelas simulações feitas, em computador, é possível prever como a
dinâmica de movimento dos continentes desenhará o planeta no futuro.
Segundo o pesquisador, em 50 milhões ou 100 milhões de anos, haverá uma
nova distribuição dos continentes com fusões e fissões das massas
continentais atuais. Esse processo, que está em curso, inclui, o aumento
da distância entre Brasil e África, com o Oceano Atlântico se abrindo
cada vez mais”, ressaltou.
Essa abertura dos continentes teve início há 130 milhões de anos e
segue gerando reflexos em toda porção Leste da América do Sul. Um
exemplo é a criação das bacias onde foram descobertos, recentemente, os
poços de petróleo do pré-sal. Basei explica que esses fenômenos, porém,
ocorreram em época mais recente do que a abordada pelos projeto. Apesar
de não contemplar o período de estudo do projeto, o cientista lembra que
a dissipação de energia gerada por esses processos recentes utilizam-se
das feições mais antigas. “É importante conhecer a estruturação
anterior para sabermos como no futuro elas poderão vir a influenciar
este processo”, disse.
Portanto, a previsão de terremotos e vulcões, embora não tenha sido
alvo da pesquisa, tem relação com o estudo evolutivo feito sobre os
terrenos. Na Cordilheira dos Andes, explica Basei, houve um 'mergulho'
das placas oceânicas por baixo do continente Sul-Americano. “Esse
processo gera vulcanismo e os terremotos, mas isso é porque lá o
processo é distinto geologicamente do que ocorre no lado que diz
respeito ao Brasil”.
Além da comparação geológica entre os dois continentes, os
pesquisadores estudaram a forma como a América do Sul evoluiu. Ela
cresceu em sua extremidade Oeste por expansão de terrenos. “Antes da
evolução dos Andes, que é uma cadeia de montanhas jovem, nós tivemos
inúmeros terrenos que não se formaram na América do Sul, mas que se
juntaram a ela em torno de 450 milhões de anos atrás”, conta o
pesquisador.
O projeto permitiu a montagem de dois laboratórios que contam com
equipamento de última geração: o Shrimp, sigla em inglês para
microssonda iônica de alta resolução, e o Laicpms constituído por uma
fonte de laser acoplada a um espectrômetro de massas. Ambos permitem a
determinação da idade de minerais presentes nas rochas analisadas, forma
usada pelos cientistas para caracterizar terrenos de épocas tão
distantes. Segundo Basei, o mineral utilizado durante a pesquisa foi o
zircão, que tem urânio em sua constituição. Ele conta que, com o tempo, o
zircão se desintegra para o chumbo por força da radioatividade. A
medição da quantidade desses elementos permite, assim, aos cientistas
descobrirem a idade da rocha.
Participaram do estudo 17 pesquisadores brasileiros (11 do Instituto
de Geociências da Universidade de São Paulo, um da Universidade
Estadual de Campinas, dois da Universidade Federal do Paraná, um da
Universidade Federal de Pernambuco e um do Serviço Geológico do Brasil) e
12 cientistas estrangeiros (um dos Estados Unidos, dois da Africa do
Sul, um da Austrália, um da Alemanha, um da França, um de Portugal, dois
do Uruguai, e três da Argentina).
Agência Brasil
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