Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro concentra esforços na
reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz, na Ilha Rei George,
destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, cientistas buscam
consolidar a presença de pesquisadores do país mais ao Sul, dentro do
Continente Antártico.
Cientistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) pretendem montar uma base com
capacidade para oito pesquisadores, no local onde já funciona o módulo
autônomo Criosfera 1, que opera sem a presença de cientistas, na
latitude 85 Sul, a 500 quilômetros do Polo Sul.
A informação foi divulgada pelo pesquisador Heitor Evangelista, da
Uerj, coordenador do Criosfera. Segundo ele, um módulo dormitório, com
quatro beliches e uma cozinha, deverá ser instalado ao lado do Criosfera
a partir do final do ano que vem. Há ainda a possibilidade de ter e um
minimódulo, que funcionará como banheiro.
A estação garantirá a presença brasileira no continente, já que a
Comandante Ferraz e os refúgios mantidos pelo Brasil na Antártica ficam
todos em ilhas, fora da massa continental. O módulo Criosfera 1 foi
instalado em janeiro de 2012, para fazer pesquisas sobre mudanças da
atmosfera, do clima e da camada de gelo.
O módulo funciona sem a necessidade de pesquisadores, com o auxílio
de geradores solares e eólicos e de baterias, além de equipamentos
posicionados dentro e fora do contêiner. Os dados coletados são enviados
por satélite para o Brasil. Uma missão com pesquisadores brasileiros
foi enviada no final do ano passado para avaliar o funcionamento do
módulo e fazer coletas de mais materiais.
No entanto, o grupo precisou dormir, comer e improvisar banheiros em
barracas, que foram posicionadas no entorno do Criosfera 1. Sob essas
condições, explica Evangelista, não é possível ficar mais do que um mês
no local. “Hoje é muito difícil ficar mais do que 30 dias. Em uma missão
dessa de 30 dias, nas condições que você encontra lá, você praticamente
chega ao seu limite físico. Isso é muito comprometedor.”
A instalação do módulo dormitório permitirá que os pesquisadores
permaneçam até três meses no local, durante o verão antártico. “Será
muito bom, porque vai permitir uma ampliação das pesquisas”, disse o
cientista.
Hoje toda a operação logística do Criosfera é feita por uma empresa
privada, contratada pelo consórcio universitário que opera o módulo de
pesquisa. Os pesquisadores devem conversar com a Força Aérea Brasileira
(FAB) para pedir que pilotos brasileiros sejam capacitados e aprendam a
pousar seus aviões Hércules (que transportam os equipamentos) no
Continente Antártico, em uma pista de pouso existente na latitude 80,
próximo à Criosfera 1.
Isso, segundo o cientista, baratearia os custos de operação do
Criosfera. “Queremos que a FAB faça algo que os chilenos já fazem, que é
pousar um Hércules na latitude 80. O pouso é feito no gelo. É um tipo
de gelo, formado na base das montanhas, que tem uma densidade bem alta, o
gelo azul. Nesse gelo azul, uma aeronave pode pousar com rodas”, disse
Evangelista.
Agência Brasil
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