O venezuelano Freddy Vergara, um dedicado espeleólogo -- estudioso de
grutas e cavernas --, não esconde seu entusiasmo ao descrever a
maravilha cromática que seus olhos testemunharam pela primeira vez em
março, quando ele participou dos trabalhos iniciais de exploração da
caverna de Imawarí Yeutá, localizada na colina de Auyantepuy, no sudeste
da Venezuela.
Esse não é um lugar qualquer: trata-se de uma caverna de quartzito --
material com alto conteúdo de quartzo -- encrustada em uma formação
rochosa conhecida como "tepui" - uma enorme montanha em formato de
'mesa', com um grande platô em seu topo em vez de um pico.
Ela foi descoberta no dia 13 por uma equipe multidisciplinar formada
por venezuelanos do grupo Theraphosa e italianos do La Venta e pode ser a
maior de seu tipo no mundo -- embora mais análises precisem ser feitas
para que isso seja confirmado.
A expedição que localizou a impressionante caverna venezuelana foi
organizada dois anos depois que uma fissura em uma grande estrutura
rochosa foi avistada em Auyantepuy em 2011 pelo piloto de helicóptero
Raul Árias.
"Fomos ao local para explorar o que havia e encontramos um monstro lá
embaixo", disse Freddy Vergara, do grupo Theraphosa. "Você fica sem
palavras só de olhar para a caverna".
Formação rochosa
Até algumas décadas atrás, a comunidade científica acreditava que o surgimento de cavernas em rochas de quartzito não era possível pelo fato de essas estruturas serem muito compactas e firmes, semelhantes a cristais -- o que dificulta a erosão por fatores como água ou vento.
Em geral, a formação de cavernas é comum em estruturas de carbonato de
cálcio, argila e conchas marinhas que no passado formavam o fundo de
oceanos. Para se ter uma ideia, segundo Vergara, enquanto a erosão de
cem metros de carbonato de cálcio leva cem anos, no mesmo período
obtêm-se a erosão de apenas um metro de quartzo.
Por isso, acredita-se que a Imawarí Yeutá seja uma caverna de origem "bacteriológica".
"[Esse tipo de formação] é produzido pela ação de bactérias que vivem
em condições extremas e, de alguma forma, conseguem enfraquecer o núcleo
do quartzito e torná-lo arenoso, fazendo que fiquem mais sujeitos à
erosão e formem essas estruturas maravilhosas, vivas", diz Vergara.
Dentro das câmaras, salões e galerias multicoloridas da caverna diversas formas de vida também evoluem em total isolamento.
Além de diferentes tipos de bactérias, também foi encontrada na Imawarí
Yeutá uma espécie de pássaro de caverna que caminhava pelo chão --
comportamento que nunca havia sido observado para indivíduos dessa
espécie.
Exploração
O nome indígena da caverna, Imawarí Yeutá, designa uma espécie de duende e protetor da montanha na mitologia da etnia pemón.
Segundo os espeleólogos, ela pode ter até 25 quilômetros no total e tem
salões que chegam a medir 130 metros de largura por 200 metros de
comprimento.
Não é a toa, portanto, que a primeira expedição para tentar mapeá-la foi um tanto complicada.
Os espeleólogos desceram cerca de 60 metros por uma corda de rapel,
passando entre fendas e rachaduras antes de começar a caminhar.
No total, os trabalhos de exploração duraram 15 dias e envolveram 14 pessoas.
Árias, o piloto que localizou a entrada da caverna, visitou a Imawarí
Yeutá como um "convidado especial" da equipe de cientistas. Ele descreve
o que viu como "um fantástico mundo de cachoeiras, lagos e estalactites
coloridas" submersos em uma escuridão completa, mas que ganham vida
quando iluminados artificialmente.
Árias disse à BBC que já identificou outras cavernas com voos de
helicópteros. Piloto experiente, ele costuma trabalhar com turistas,
cineastas, exploradores e até famosos -- certa vez levou o ator Harrison
Ford para conhecer algumas das belezas naturais da Venezuela.
"Quando vejo formações estranhas ou aberturas nas rochas, dou voltas no
ar para tentar determinar do que se trata. Já identifiquei outras seis
cavernas que ainda precisam ser exploradas", contou.
BBC BRASIL
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