sábado, 6 de abril de 2013

Redução de área plantada e chuvas causam alta recorde do tomate


Principal produtor de tomate no país, Goiás não escapou da alta do produto. Mesmo sem ter sofrido um inverno rigoroso, como ocorreu em outras regiões produtoras, o estado registrou um aumento de 150% no preço no mês de abril, recorde de toda a série histórica do Centro de Estudos Avançado em Economia Aplicada (Cepea). Segundo a Federação de Agricultura (Faeg), a elevação ocorre por causa da drástica redução da área plantada, que caiu mais da metade nos últimos três anos.

De acordo com dados da Faeg, a estimativa de diminuição da área agrícola do tomate no Brasil é 16%. Mas em Goiás, esse índice foi de 41,85%, entre 2011 e 2012. Em 2010, as plantações de tomate ocuparam 2.511 hectares no estado; em 2011, foram 1.890 hectares; e em 2012, apenas 1.099 hectares.

O encolhimento da área plantada, aliado ao período de entressafra, resultou na falta de produto no mercado, o que fez o preço disparar. O quilo da hortaliça nesta semana variou entre R$ 8 e R$ 9 nos principais supermercados de Goiânia. Segundo a Faeg, o preço médio da caixa com 22kg, que até o mês passado estava em R$ 40 no Ceasa de Goiânia, está sendo negociada a de R$ 110 nesse início de abril.

Em 2012, Goiás produziu 67 mil toneladas de tomate. Segundo a Faeg, o estado se mantém como o maior produtor da hortaliça no Brasil, seguido por São Paulo e Minas Gerais. Além de abastecer o mercado interno e a região Centro-Oeste, o produto goiano é vendido para estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Não há, na Faeg, registro de exportação.

Variação


Em entrevista ao G1, o assessor técnico da Faeg para o setor de olericultura (ramo da horticultura que engloba o tomate), explica que é comum no fim e começo de cada ano um aumento no preço do produto, pois a chuva e o excesso de umidade causam doenças na planta.

No entanto, argumenta que a alta recorde é uma consequência da falta de política de garantia de preço mínimo, com base no custo de produção, o que, segundo ele, acontece com produtos como a soja, o feijão e o milho. "Essa variação desestimula o produtor. Não há segurança de receita, de renda. Quando o produtor viu que a caixa estava sendo cultivada a menos de R$ 10 [em 2011], passou para outras culturas", diz o técnico.

Entre os produtores que suspenderam o plantio por um tempo em Goiás está Duarte Irias, 29 anos, de Goianápolis. Depois de amargar meses de preço baixo do produto no segundo semestre de 2011, em novembro daquele ano, uma praga atacou sua horta, com 20 mil pés plantados em 2 hectares. Ele perdeu todo o trabalho e deixou de colher 120 toneladas do alimento.

"Estou acabando de pagar minhas dívidas agora", diz o produtor. Apesar de ter voltado a plantar, só deve começar a colher em julho. Ele espera que até lá o preço ainda esteja bom. "O valor da caixa só deve voltar ao patamar do ano passado no mês de agosto", acredita.


Otimismo no campo

Enquanto os consumidores reclamam do preço do tomate nas bancas de feira e prateleiras de supermercados, os agricultores que apostaram no fruto, apesar do fraco desempenho da cultura no ano passado, comemoram os resultados.

Com a experiência de 13 anos passando pelos altos e baixos da cotação do tomate, Marcelino Alves de Oliveira, de 35 anos, não paralisou a produção. Sua última colheita foi rapidamente vendida nas Ceasas de Anápolis e Goiânia, a R$ 60 a caixa. Um alívio para quem, no ano passado, chegou a entragar o caminhão fechado com caixa a R$ 3, apenas para evitar o desperdício.

"Não dava nem para pagar as despesas. Tive um prejuízo de R$ 200", lembra. Em 2011, o melhor preço que conseguiu foi de R$ 35 a caixa. Mas as lamentações ficaram no passado e agora Marcelino não esconde o contentamento. Ele conseguiu pagar as dívidas e aproveita o lucro. Está prestes a colher mais 6 hectares. Todo o produto já foi negociado com um revendedor da Ceasa de Campo Grande (MS). "Vou continuar colhendo até novembro", estima o agricultor.

Capital do tomate

Sensível à grande quantidade de chuvas, assim como ao calor e frio elevados, o tomate encontrou no centro de Goiás condições climáticas apropriadas. Com altitude elevada e tempo seco em seis meses do ano, a região concentra as principais cidades produtoras do estado: Corumbá, Goianápolis, Anápolis, Santa Rosa e Pirenópolis.

Goianápolis, a 48 quilômetros de Goiânia, ficou conhecida como a capital do tomate em Goiás. O município é a terra natal do cantor Leonardo, que começou a trabalhar ainda criança junto com o irmão Leandro, plantando a hortaliça. Os dois costumavam cantar para amenizar o trabalho árduo da lavoura. Assim, acabaram formando uma das duplas sertanejas mais famosas do país.

Mas a fama da capital do tomate tem mudado. Em 2012, com 9,6 mil toneladas do fruto colhidas, o município perdeu o posto de maior produtor para Corumbá, que alcançou 10,4 mil toneladas. Alguns produtores de Corumbá sairam de Goianápolis, que mudaram a localidade para deixar a terra "descansar". Outros estão trocando o tomate por outras culturas, a exemplo do morango.

 G1

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