O cenário de sustentabilidade global não está limitado ao controle da produção de dióxido de carbono,
de acordo com o engenheiro agrônomo Elibio Rech, pesquisador do
Laboratório de Biologia Sintética da Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia (Cenargen).
“A equação da
sustentabilidade é composta de diversos componentes, como saúde humana,
educação, segurança alimentar, ambiental e ecológica e valor de mercado.
É particularmente importante que as tecnologias modernas, incluindo os
transgênicos, sejam cada vez mais utilizados para atingir a
intensificação sustentável da produção de alimentos”, disse Rech, que
também é professor da pós-graduação em Biologia
Molecular da Universidade de Brasília (UnB), durante a 7ª Conferência e
Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP).
De acordo com o engenheiro agrônomo, exemplos no Brasil de iniciativas científicas sustentáveis não faltam: na área de bioenergia e de óleos, por exemplo, a Embrapa Cenargen está fazendo a chamada engenharia metabólica.
“Nós mudamos a rota metabólica dentro da soja
para aumentar a quantidade de ácido oleico – o bom óleo – e reduzir o
ácido palmítico, o que é interessante para a área de bioenergia de
combustíveis. O óleo da soja usado como combustível, composto por
aproximadamente 25% de ácido oleico e 13% de palmítico, apresenta menor
desempenho e dano ao motor por oxidar mais rapidamente e ter um ponto de
congelamento alto. A soja que desenvolvemos tem 95% de oleico e 4% de
palmítico, o que faz com que ela não oxide e não congele facilmente,
melhorando o desempenho do motor”, exemplificou Rech.
Para
uso no consumo humano, o alto nível de ácido oleico na soja possibilita
expandir o tempo de saturação do óleo durante o processo de frituras.
A
Embrapa desenvolveu também uma série de moléculas transgênicas
recombinantes, como a insulina transgênica e o hormônio do crescimento,
contou Rech.
Em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde
(NIH), dos Estados Unidos, a empresa brasileira desenvolveu linhagens de
soja produtoras de sementes contendo a molécula cianovirina, de ação
microbicida, que os cientistas pretendem usar para a fabricação de um
gel vaginal anti-HIV [leia mais na revista Pesquisa FAPESP].
Segundo
Rech, o maior problema ainda é o preço dessas tecnologias. “Essas
moléculas já estão disponíveis, mas ainda são muito caras. O tratamento
com o hormônio do crescimento humano, por exemplo, custa cerca de R$ 4
mil por mês. Temos evidências de que, usando plantas para gerar a
matéria-prima, conseguiremos reduzir o custo desses medicamentos, o que
terá uma implicação social importante, uma vez que assim aumentaremos o
acesso da população a eles”, afirmou.
Organizada pela Academia
Brasileira de Ciências, a 7ª Conferência e Assembleia da IAP, que teve
como tema "Ciência para a Erradicação da Pobreza e o Desenvolvimento
Sustentável", reuniu no início do ano mais de 130 cientistas de diversos
países no Rio de Janeiro.
Agência Fapesp
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