Registros da história do imperador Marco Aurélio, publicados na obra
Guia do Imperador, apontam dentre as várias reflexões propostas, a ideia
de que o universo é um organismo vivo individual, que tem uma
substância e uma alma, mantendo todas as coisas sustentadas por uma
única consciência e criando todas as coisas com um único propósito de
poderem trabalhar juntas, fiando, tecendo e ligando tudo o que venha a
passar por ali.
Sob um ponto de vista científico, um congresso da União Europeia de
Geofísica, realizado em 2001, atestou que “o sistema Terra comporta-se
como um único sistema autoregulador formado de componentes físicos,
químicos, biológicos e humanos”. Este foi um dos sinais de que a
Hipótese de Gaia, proposta por James Lovelock, estava próxima de ser
aceita por parte dos cientistas mundiais.
A hipótese proposta por Lovelock indica que a Terra tem o
comportamento equivalente a um organismo vivo, como uma unidade em maior
proporção. Esta descoberta foi iniciada através de observações
atmosféricas, em especial nas concentrações de oxigênio e nitrogênio,
correlacionadas direta ou indiretamente com as atividades de organismos
vivos, que indicam um possível poder de autoregulação da Terra em busca
de um ideal ecossistema.
Sob a ótica proposta pela hipótese de Gaia, o ser humano representa
uma parte deste todo, que conjugado com os demais seres vivos, garante o
funcionamento de um sistema complexo que se encerra no planeta Terra.
Segundo o teólogo e pesquisador Leonardo Boff, a Terra é um
gigantesco superorganismo que se autoregula, fazendo com que todos os
seres se interconectem e cooperem entre si. Nada está à parte, pois tudo
é expressão da vida de Gaia, inclusive as sociedades humanas, seus
projetos culturais e suas formas de produção e consumo.
A autonomia do ser humano, ser racional dentre os demais organismos
vivos, proporciona a ele grande potencial de interferência no sistema
Gaia, que, dependendo das tomadas de decisão, podem gerar efeitos
positivos ou negativos em grandes proporções. Nossa responsabilidade
neste contexto é evidente.
Daí, o desafio de reverter o conceito desenvolvido pela sociedade
atual de que o ser humano necessita do meio ambiente para seu
desenvolvimento, e dessa forma, o meio ambiente passa a ser “aquilo que
está do lado de fora das cidades”. Perdeu-se a noção de que o ser humano
é parte integrante da natureza, e este conceito é fundamental para a
criação de uma sociedade equilibrada ambientalmente.
Observa-se na sociedade contemporânea elementos como a valorização da
imagem, do “ter”, que leva inevitavelmente a um padrão de comportamento
ligado à descartabilidade tanto dos produtos já consumidos, ou a serem
consumidos, quanto das pessoas que não têm acesso a estes bens.
Compreender o funcionamento do planeta Terra tem sido um desafio
dentre pensadores e pesquisadores da humanidade, com vistas a alcançar
um nível de conhecimento amplo acerca da função dos seres humanos e dos
elementos naturais neste contexto. O rumo destas reflexões ainda é
incerto. O fato é que a prática do ser humano tem se mostrado pífia no
que diz respeito ao cuidado com a nossa atual morada.
Eco Debate
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