O Jornal Nacional vai exibir, nesta semana, uma série de reportagens
especiais sobre prejuízos que o Brasil sofre por causa de pragas. O que
elas têm em comum é o fato de que não existiam, por aqui. Foram trazidas
de outros países. Na primeira reportagem, Tonico Ferreira mostra duas
delas - que prejudicam a criação de gado em diferentes estados
brasileiros.
O bicho é pequeno, mas agressivo e altamente reprodutivo. Ataca os bois
em grandes colônias. “Num local como esse aqui, a gente encontra mais
de mil carrapatos. com certeza”, aponta um especialista.
A fêmea produz até 4 mil ovos e a fertilidade é de 98%. O carrapato do
boi veio da Índia. O gado de raça européia, importante na produção não
só de carne, mas, sobretudo de leite, é o mais sensível ao parasita.
É um problema essencialmente econômico para o país. O prejuízo que ele
traz tanto pela queda na produção de carne, leite e transmissão de
doenças quanto pelo custo das medidas de controle é de quase R$ 6
bilhões por ano.
Novos métodos de combate ao carrapato são testados em uma fazenda
experimental em Minas Gerais. É um passo importante. Mas, quem conhece o
problema a fundo, diz que é preciso um esforço coletivo.
“Quando não existe uma política pública, a coisa fica por conta do
interessado particular. E isso leva a muitos erros. Hoje, um dos grandes
problemas que a gente ter essa política pública, é que cada um faz como
consegue”, ressalta Romário Cerqueira Leite, prof. de doenças
parasitárias – UFMG.
A Embrapa, no entanto, reclama da falta de interesse de muitos
produtores. O laboratório em Juiz de Fora, Minas Gerais, que recebe
amostras de carrapato e testa os melhores produtos para combater o
parasita, está com capacidade ociosa.
“Não temos política pública, mas temos um serviço gratuito que a
Embrapa oferece a todos os produtores. E nós temos recebido em torno de
mil amostras por ano e temos capacidade de realizar mais de 6 mil por
ano”, afirmou Rui da Silva Verneque, pesquisador da Embrapa.
Pequenos produtores de leite são os mais prejudicados. Sergio da Silva,
por exemplo, tirava 270 litros de leite por dia antes do carrapato
atacar. Agora, consegue apenas 180 litros. Somando os gastos com o
controle do carrapato, ele calcula que deixa de ganhar mil reais por
mês.
“É um inimigo que a gente está tendo que buscar força pra poder vencer,
porque está difícil”, declarou Regino Sérgio da Silva, produtor de
leite.
Criadores de gado do Nordeste também estão tendo prejuízos por causa de outra espécie invasora.
No Nordeste uma praga está atacando uma planta que é um dos principais
recursos que o criador de gado tem para alimentar os rebanhos nos
períodos de estiagem prolongada. E esta região passa por uma seca que
vem desde o ano passado.
Há mais de 100 anos a palma forrageira, que veio do México, é alimento
para o gado no semiárido nordestino. Recentemente foi atacada pela
cochonilha. Esse inseto é conhecido por produzir um corante natural
vermelho, o carmim. A fonte da infestação foi um teste para produção
comercial desse corante.
O experimento foi mal conduzido, houve perda de controle e cochonilha
se espalhou por plantações de palma em Pernambuco e Paraíba. É fácil
identificar o ataque do inseto. Ele forma colônias em flocos brancos. A
cochonilha suga a selva e provoca a morte da planta.
João Vieira de Andrade, produtor familiar, levou um susto. “O povo aqui
não acreditava que a cochonilha mataria essa palma. Trinta, 40 anos que
nós vivemos por aqui e nunca viu doença em palma. Aí ela chegou de vez
assim”, contou o produtor de leite.
Com 20 vacas leiteiras, ficou sem água, sem pasto e sem palma, teve de
pegar um empréstimo. “O financiamento nós fizemos pra dar de comer aos
animais. Os animais comeram o financiamento todo. E agora, como pago o
banco?”, lamentou.
João ficou também sem ter como sustentar a família. “É difícil o
negócio”, lamenta. Ele vendeu as vacas, deve R$ 32 mil para o banco e
agora trabalha nas fazendas vizinhas fazendo bico.
Agrônomos estão tentando controlar a praga, com variedades de palma resistentes à cochonilha do carmim.
“Aqui estamos diante de duas variedades. A variedade resistente, que é a
variedade miúda, que você vê que ela não tem ataque da cochonilha, e
aqui a variedade suscetível que é gigante. Vocês vejam o nível de ataque
como está aqui. Mesmo estando plantada há três anos, ela junto aqui,
ela não repassa a cochonilha para esta outra”, explica Djalma Cordeiro,
agrônomo.
Com esse novo horizonte, João pensa em voltar a fazer o que sabe: criar gado e produzir leite.
Jornal Nacional
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