sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A natureza de Boff


O valor da escuta - o pensador Leonardo Boff é um dos defensores mais fervorosos da Ecologia no Brasil. Em sua análise sobre a cultura ocidental e sua relação com a natureza, ele mostra como essa cultura é toda voltada para o privilégio do olhar. Sabemos que outras culturas, além da visão, privilegiam outros sentidos, como o da escuta, por exemplo. Os nossos índios ainda afirmam que podemos escutar a fala das montanhas, dos rios e das estrelas. Os xamãs são chamados para fazer a leitura daquelas falas, decifrando seus sentidos. Comunicam com a natureza e  respeitam  sua força e mistério.
De acordo com Boff, para que possamos conviver bem com o natural, precisamos aprender a escutar suas mensagens de modo a conseguirmos decifrar suas satisfações ou advertências. Há toda uma pedagogia oculta nos sinais da natureza. Olhar é fundamental, mas escutar também é preciso. Para ele, muitos desastres poderiam ser evitados se as pessoas tivessem escutado e decifrado melhor os avisos. Aprender a escutar as vozes da natureza, compreender os seus sinais, as suas advertências e clamores é essencial numa relação mais amorosa com o mundo. No caso da tragédia de Petrópolis, os sinais da tragédia anunciada estavam à vista de todos, antes, da tempestade se abater sobre a região.

O cuidado - O cuidado é uma das qualidades mais importantes do ser humano. Infelizmente tão pouco incentivada e, em grande parte, esquecida. Essa atitude é uma das finalidades básicas do amor, pois este implica encontro, cuidado, proteção e apego. E se não tivermos cuidado com nossa mãe primeira, não teremos cuidado com nós mesmos. O cuidado  é, portanto, um pertencer da essência humana.
Cabe aqui a frase bem conhecida: Quem ama cuida. Esse tema deveria ser obrigatório  desde  o primário até os cursos superiores, já que somos o que  aprendemos. Basta olhar em volta para ver que não temos nenhum cuidado com a natureza, retiramos  tudo dela,  esgotando seus recursos sem  a mínima preocupação. E o mais triste é que estamos fazendo do ambiente natural uma imensa lixeira dos nossos dejetos. Acreditamos que o mundo está aí a nossa disposição, pois somos os seres racionais e que, portanto, temos um direito divino de dominar o que é irracional. Precisamos com urgência desmentir essas falácias, pois a racionalidade está em tudo, desde uma bactéria a uma galáxia.

A consciência - Os homens precisam saber que o sistema-vida e o sistema-civilização estão em crescente ameaça, pois a natureza e o humano estão em perigosa rota de colisão. É para ontem e não para hoje nem amanhã, a necessidade premente de começarmos a construir os alicerces do novo paradigma homem + natureza. A conscientização dessas ameaças tem  de ser estendida a todo ser humano de bom senso. O tempo está passando, mas ainda podemos recuperar a dimensão de encantamento com o mundo, criando um novo sonho. Os paradigmas de conquista, expansão e exploração devem ser trocados pelos de cuidado, respeito e sustentabilidade global. Essas atitudes conjuntas podem impedir que as advertências da natureza se transformem em tragédias. O que, segundo Boff, Não podemos esquecer que a natureza é uma herança sagrada, uma oferta do Universo e de Deus, que nos entregou para, ser amada e cuidada.
(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas.

Revistaecologico

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