domingo, 5 de maio de 2013

Produção de leite no Brasil tem problemas de baixa qualidade


O Brasil alcançou nos últimos anos um lugar de destaque entre os principais produtores de leite do mundo. Mas um problema parece difícil de ser resolvido: a produção não é homogênea e o país não é bom em qualidade e condição sanitária. O Globo Rural apresenta um pouco do universo do leite, atividade responsável por segurar milhões de pessoas no campo.

Apesar do enorme avanço da agricultura do Brasil nos últimos 30 anos, o boi e sua família continuam sendo a maior riqueza brasileira que vem da terra. O boi de corte é um negócio onde os grandes predominam. O negócio da vaca de leite é assunto para pequenos, o que dá para ver pelo número de produtores.

O Uruguai, com 4,5 mil produtores, vende leite para mais de 50 países. A Nova Zelândia, o maior exportador de leite no mundo, tem 13 mil produtores. Nos Estados Unidos, o país que mais produz leite, há pouco mais de 50 mil produtores. O Brasil, que não faz nem para o gasto, conta com 1,3 milhão de produtores.

O professor da Universidade Federal de Viçosa Sebastião Teixeira, que desde muitos anos estuda o leite no Brasil, fez pesquisa de campo em Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Tocantins, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Pernambuco. Agora, ele está começando um estudo em Rondônia.

“O Brasil possui cinco milhões de estabelecimentos rurais. Deste total, 1,3 milhão produz leite. Há, no mínimo, duas pessoas por estabelecimento. Então, daria mexendo com leite 2,6 milhões”, diz Teixeira.

Com 33 bilhões de litros por ano, o Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, ficando abaixo apenas dos Estados Unidos e da Índia. A produção vem crescendo a cada ano. Mesmo assim, o consumo de leite no Brasil, com 172 litros por pessoa por ano, está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 250 litros por pessoa por ano.

Existe até uma relação entre consumo de leite e desenvolvimento. Os países mais avançados do mundo, como Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, França, são os que mais bebem leite.

As pesquisas do professor indicam que o primeiro motivo das pessoas trabalharem com leite é a renda mensal garantida. Nos últimos anos, o preço andou ruim, mas o produtor compensou com o aumento da produção. Para isso, contou com a assistência técnica privada, fator que vem ganhando maior importância.
A Embrapa de Juiz de Fora, na zona da mata mineira, é um endereço quase obrigatório no que diz respeito à produção do leite no Brasil. Em Minas Gerais, estado que mais produz leite no país, vive um pouco da história nas imagens de um livro que acabou de sair.

As primeiras cabeças de gado chegaram a São Vicente, no estado de São Paulo, em 1532. Mas o Nordeste teve uma importância grande no início da caminhada do leite. A gravura de 1641 mostra uma instalação nos arredores de Recife, em Pernambuco.

O diretor da Embrapa Gado de Leite conta que em Minas a história do leite envolve até uma figura ilustre. “Palmira era o primeiro nome de Santos Dumont, da cidade de Santos Dumont, que fica na região da Serra da Mantiqueira, próxima a Juiz de Fora, onde há registro no livro que Santos Dumont foi o primeiro fornecedor de leite para esse laticínio chamado Palmira na época”, diz Duarte Vilela.

Leite é um alimento nobre na medida em que é necessário em todas as fases da vida de uma pessoa. O alimento tem cerca de 30% de proteína. Nos outros 30% há principalmente gordura e sais minerais.

O pesquisador Júnior de Paula, do Instituto Cândido Tostes, de Minas Gerais, possui a árvore do leite. Existem cerca de cinco mil produtos feitos a partir do leite. “O leite tem mais de 100 mil componentes. A gente pode produzir desde álcool até lactose, usada em remédios para levar o princípio ativo. Então, as aplicações são diversas”, diz.

Do leite também se pode extrair caroteno, ácido bórico e vitaminas. Também dá para fazer vinagre e matéria plástica. Os caminhões da Itambé, maior cooperativa de leite do país, percorrem 55 mil quilômetros para recolher três milhões de litros diários.

A fábrica que fica em Sete Lagoas, a 75 quilômetros de Belo Horizonte, é a maior da cooperativa em produção de leite em pó. No lugar também se produz queijo, manteiga e bebida láctea. Cada vaca no Brasil produz uma média de cinco litros por dia. É muito pouco. O gerente da cooperativa Tarsísio Costa aponta outros embaraços.

“Nós temos uma baixa escala de produção. Fora isso, nós temos o custo pós-porteira, que são a alta carga tributária para se produzir no Brasil, os tributos, e um custo logístico para captação do leite também muito alto. Estradas ruins para se buscar pequenos volumes. Isso tudo encarece o nosso custo do leite”, avalia Costa.

Com exceção do Sul e de alguns criadores de outras regiões, o leite brasileiro vem de vacas também com sangue zebu. A melhoria do gir leiteiro fez com que o cruzamento com a raça holandesa venha produzindo um girolando de qualidade, além de trazer algumas vantagens em relação ao leite de vacada com origem apenas na Europa.

G1

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