domingo, 18 de agosto de 2013

Uma estratégia à segurança alimentar dos pobres urbanos: Agricultura urbana, artigo de João de Deus Barbosa Nascimento Júnior


Está em marcha acelerada no mundo, um triste fenômeno, que atesta o fracasso da revolução verde e de seus métodos destruidores: um bilhão e duzentos milhões de pessoas sem acesso à alimentação mínima necessária para manterem-se capazes de executar algum trabalho para garantir a segurança alimentar individual e de seus familiares no mundo, mas, para 800 milhões a fome já é endêmica. O restante, cerca de quatro bilhões e meio de habitantes do globo, conseguem acesso à sua ração alimentar diária suficiente apenas, quando se pode dispor de pelo menos um dólar americano de renda individual, para sua subsistência, digo existência altamente comprometida e fragilizada para o ataque constante de diversas doenças relacionadas à baixa nutrição. Outros agricultores já respondem por grande parte dessa população, menos de 5% que detém acesso a uma dieta de cerca de 2.000 calorias diárias, pensam que estão fora de risco, mas cada vez mais estão sendo literalmente envenenadas por exposição aos agroquímicos de toda espécies, sejam eles fertilizantes, agrotóxicos ou aditivos químicos existentes nos alimentos de origem animal ou vegetal que consumidos ou remetidos para consumo de outrem. Os primeiros morrem de fome os segundos de câncer e males circulatórios.
 
Mas existe outro fenômeno que o mundo não tem prestado a devida atenção: 800 milhões de pessoas, em todo o mundo, se dedicam hoje à agricultura familiar urbana, e o número vem crescendo aceleradamente. É a FAO quem estima em 800 milhões o número de agricultores urbanos no mundo, reconhecendo que esses agricultores ou ex-agricultores que migraram para os grandes centros urbanos, já respondem por 15% de toda a produção mundial de alimentos – uma alimentação muito mais variada e nutritiva, não baseada apenas em cereais e outras commodities agrícolas. Uma das causas é sem dúvida o grande, e, se pode dizer, maciço êxodo rural, acompanhado pelo proporcional êxodo das atividades agrícolas, esse sim, o mais perigoso para as comunidades rurais tradicionais.

Dados do IBGE apontam para o crescimento das populações urbanas acentuada nas últimas décadas e que o desenvolvimento rural, causado pelo modelo tecnicista, não holístico e substituidor de mão-de-obra, causada muitas vezes, pela própria adoção de máquinas e implementos, pela monoatividade, pelo monocultivo granífero que vem ocupando cada vez mais espaços/solos de grandes áreas brasileiras, expurgando assim, massas inteiras de trabalhadores, não aproveitados por essas culturas, nem pelos seus sistemas de cultivo empregados.

Daí urge a necessidade, que se estabeleça uma planificação municipal, estadual e regional para atender as demandas de técnicas, capazes de absorver essas massas trabalhadoras, para que possam das continuidade as suas atividades agrícolas, sendo mais saudáveis do ponto de vista ecológico, mais econômico e que venha principalmente ao encontro das necessidades de consumidores mais exigentes, localizados às margens ou às proximidades das suas novas áreas, cada vez menores e que necessitam de uso intensivo de mão-de-obra e de tecnologias, serviços e processos que gerem produtos com maior produtividade por unidade plantada, com rentabilidade e rendimento bem maiores, pra aumentar a oferta de alimentos cada vez mais orgânicos.

Essas atividades envolvem o plantio de hortaliças, frutas, grãos e ervas medicinal e/ou aromáticas, pequenos bosques, áreas de permacultura, flores e outras plantas ornamentais. Esses cultivos acontecem tanto em cidades pequenas do terceiro mundo, como no coração de megalópoles do mundo industrializado: Amsterdã, Paris, Nova York, Los Angeles, Vancouver. Acontece no Brasil, com importância em Cachoeiro do Itapemirim, Rio Branco do Sul e nas capitais como: Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo dentre outras. Essa atividade é estratégica em Havana, onde 26.000 habitantes são praticantes. Em Moscou (20.000), na Philadelphia, em Kampala, na Cidade do México, Boston, Tirana, Nairóbi, Bangkok, Perth, Sidney, Toronto, São Petersburgo, Shangai, Montevidéu, Lima, Buenos Aires, Corrientes, La Paz, etc. Essa atividade está muito bem apoiada pelos governos do Canadá, África do Sul, Austrália, Alemanha, Índia e China. No Brasil, bem aqui, ainda estamos dormindo em berço esplêndido.

Por exemplo, em Chicago há criações de cabras e ovelhas além de abelhas em plena cidade. O mesmo acontece em várias cidades da Inglaterra, onde a criação de vacas é permitida. Na Cidade do México, a municipalidade tem autorizado a criação de até 60 porcos em terrenos urbanos por família, desde que observadas rígidas condições de higiene. Na maior parte das cidades e países citados, a atividade d plantio convive com a criação de animais, em plena zona urbana. As autoridades sanitárias ditam as regras e mantêm a fiscalização. Os criadores tratam de segui-las e tudo funciona muito bem. Na Philadelphia, a Universidade local está implantando um Programa de apoio aos agricultores urbanos, que os capacitará a desenvolver a piscicultura urbana, em tanques de moderna tecnologia, com circulação e aeração, onde a produtividade chega ao equivalente a 400 toneladas por hectare de Lâmina de água. Também o cultivo de cogumelos está sendo incentivado.

A FAO entende que “A agricultura urbana oficialmente sancionada e promovida pode se tornar uma componente importante do desenvolvimento urbano e proporcionar mais alimentação aos pobres urbanos. A agricultura também pode proporcionar produtos mais frescos e mais baratos, mais espaços verdes, o esvaziamento de aterros sanitários e a reciclagem do lixo doméstico”. Outras vantagens dessa prática pode-se citar: a geração de renda; a criação de empregos diretos e indiretos; absorção de mão-de-obra do migrante rural; absorção da mão-de-obra adolescente; oportunidade de trabalho para mulheres; ampliação da segurança alimentar; substituição de importações municipais; reciclagem do lixo doméstico urbano; reciclagem de águas pluviais; disponibilização de alimentos de melhor qualidade ou mais frescos; alimentos mais baratos, aumento da disponibilização de proteínas e fibras vegetais; disponibilização de micronutrientes; melhora do meio ambiente urbano por sequestro de carbono; melhoria da estética urbana; fortalecimento de mercados intermunicipais; criação de agroindústrias; absorver mão-de-obra da terceira idade e proporcionar a criação de hobbies.

Para se concretizar e se perenizar a atividade da agricultura urbana, tornando-a sustentável é necessário a tomada de algumas ações importantes como: possibilitar o conhecimento dos agricultores de contabilidade financeira básica e técnicas de vendas e outras atividades relacionadas ao produto e ao consumo, como teoria de negócios, cálculo de custos de produção, lucro e formação de preços, além da teoria da gestão de estoques, estabelecendo metodologias de fácil entendimento para que esses agricultores possam elaborar seus próprios fluxos de caixa, determinar seus preços de equilíbrio, calcular seus custos de produção, calcular seus lucros, determinar as quantidades a serem produzidas sem prejuízo para atividade, criação de entrepostos para comercialização direta ou para grandes varejistas locais.

ECO DEBATE

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